À semelhança de ontem, hoje fui novamente almoçar com o instrutor americano e mais uns colegas. Estávamos a ter discuções filosóficas sobre objectivos e sentido de vida (ser escravo do trabalho e viver muito bem [real american dream] VS viver bem abaixo das espectativas mas deixar o emprego se não nos estimula) quando o sentido da conversa mudou para o euro estar alto relativamente à libra e a Grécia ser o bode espiatório.
Na mesa eramos 5, cada um representante de um País (Africa do Sul, Reino Unido, Portugal, Polónia, USA). E eu a ver onde a conversa estava a caminhar é a sentir que só não falavam de Portugal porque eu estava ali.
Então decidi trazer o "Elephant in the Room" e disse que por estarmos (Portugal) na merda não ajudava na confiança para com a economia europeia mas que no caso da Grécia eles forjaram os relatórios que provavam que eles eram suficientemente estáveis para aderir ao euro...e foi o que se viu. Então deixei no ar que todos procuram culpar Grécia (e agora Portugal) mas que nunca vi ninguém à caça de quem assinou esses documentos (e recebeu dinheiro por baixo da mesa). Sendo que esses senhores eram instituições externas e respeitaveis... e queria ficar por alí quando o Americano rematou de olhos arregalados - "and they were American.". Eu nem tava a tentar culpar os Americanos mas ele pegou no carapuço e enfiou-o bem.
E surpreendeu-me dizendo que os grandes culpados disto eram americanos porque eles começaram a crise. Que muita gente inventou lucros onde nada havia. Eu também não deixei passar que sentia que alguma culpa era nossa mas que temos sofrido um peso muito maior devido a todos os factores externos.
O Inglês queria ajudar à festa e disse que o Reino Unido era uma anedota a exportar (algo que me fez engolir uma gargalhada porque pensei no que é que Portugal teria para exportar [comparado com o uk]). E nem sei o que me deu mas acho que tive um momento de génio.
Disse que o que o UK exporta mais e melhor é cérebros. Os grandes cientistas e prémios Nobel são Ingleses. Logo o país devia de ter algum retorno quando eles saem, por exemplo, para os USA. Podia ser como fazem nos jogadores de futebol. (Dei o caso do Ronaldo que acho que está incorrecto mas no caso do Figo sei que é verdade.) Na transferência do Figo do Barça para o Real o clube onde ele teve como iniciados recebeu uma percentagem da transacção da transferência. Um prémio por formação.
E devia de ser exactamente assim também para a fuga de cérebros. Ao dizer isto, pensava nos cérebros Portugueses [como por exemplo
António Damásio]. E ao pensar nisso vi que se as universidades Americanas tivessem de dar 10% de um qualquer prémio à Instituição Portuguesa que o representa (Univ de Lisboa), provavelmente não conheceriamos o António (e o Mundo saberia muito menos sobre as emoções e as funções neurológicas).
O Americano sentiu que já lhe estavam a pisar os calos e defendeu-se dizendo que então tinham de dar muito dinheiro à Stanford Uni. E ao MIT, acrescentei.
Quase ninguém comentou esta minha ideia (ok, o Americano não gostou) a não ser o Sul-Africano que gostou bastante. O que não me deixou especialmente animado porque ele também já achou muito inteligente beber uns shots de tequila em fila e depois expremer o limão para dentro do glóbulo ocular...