Lembro-me de estar no corredor de um dos vários edifícios de um banco no tagus park. Ligados por túneis futuristas e pausados por jardins japoneses com lagos repletos de peixes obesos e doentes... tal como os transeuntes. De estar a fumar um cigarro com um tipo com botões de punho personalizados e um relógio enorme e de estarmos a falar sobre os riscos da aviação comercial.
Ele era um grande aficionado da aviação (e até estava a tirar um dos tipos de formação para pilotar que já não me lembro qual era) e ia-me transportando de história em história dos maiores desastres da aviação. Em algumas acabava por concluir que "tudo o que podia correr mal, correu". E terminou a conversa dizendo que no que toca a aviação quanto mais se sabe, mais respeito se ganha (leia-se medo). Eu acenei por simpatia mas não achava isto credível. Basta olhar para as estatísticas para perceber que é mais provável ganhar o euromilhões do que sofrer um desastre de avião.
E era essa a minha relação com os céus. Até viajar com a minha mais-que-tudo que tem "muito respeito" de andar de avião. E a pouco e pouco comecei a sentir ansiedade a cada descolagem, aterragem ou poço de ar. Até mesmo quando, ao chegar a Londres, noto que já não estou muito longe da pista e me lembro que não ouvi o trem de aterragem descer...não resisto a olhar para as hospedeiras à procura de um sinal mínimo de pânico.
[Não é que tenha motivos para ter "respeito". Depois de viver para Londres voar tornou-se quase tão banal como era andar de comboio na minha adolescência (e bem mais seguro se tivermos a linha de sintra em conta). E as únicas viagens que me ficaram na memória foram uma aterragem em estugarda em que o avião travou em 3 segundos e as coisas que tinha no colo voaram até à fila da frente. Ou, mais recentemente, uma aterragem em Katowice na Polónia onde as rodas tocaram na pista provocando uma nuvem de gelo pelo ar com um barulho enorme e eu sem sentir qualquer inercia a pensar "trava, trava, trava". Mais porque soube minutos antes de embarcar que no dia anterior um avião no mesmo aeroporto tinha escorregado para fora da pista.
Mesmo assim nada parecido com a de um amigo que recentemente fez uma aterragem falhada em S.Miguel e teve de regressar a Lisboa... ou as histórias que o meu colega de faculdade açoriano contava sobre as suas viagens a casa. Basta procurar no youtube para ficarmos a saber que algumas das aterragens mais incríveis ocorrem nas ilhas e são executadas por pilotos da Tap.]
Desde então comecei a escolher religiosamente um lugar na asa. Lugar onde o avião está reforçado e onde também é popularmente conhecido um dos lugares do avião mais seguros para se estar na eventualidade de um acidente.
O Channel 4 fez despenhar um Boeing 727 no deserto do México no âmbito do documentário "The Crash".
Depois do embate as primeiras 11 filas (reservadas para primeira classe) foram completamente arrancadas.
Foi registada uma força de 12G nesta zona comparativamente com 6G registada na zona traseira. Os especialistas concluíram que nenhum dos passageiros em primeira sobreviveriam mas que no entanto 78% dos restantes sim. Com maior probabilidade para os lugares traseiros.
Desde a transmissão em Outubro do ano passado que as vendas dos lugares dianteiros desceram abruptamente.
Outro estudo da revista Popular Mechanics analisou centenas de acidentes desde 1971 e chegou à conclusão que os lugares atrás da linha das asas são mais seguros com 69% de probabilidade de sobrevivência 56% na asa e 49% na dianteira. Também é entendido que quem está sentado a uma distância superior a 6 lugares da saída de emergência, tem menor chance de sobreviver.
Também foi concluído no documentário que apertar o cinto e tomar a posição de "brace" é crucial. Muitos acidentes acontecem quando os passageiros têm o cinto desapertando durante uma súbita turbulência.
Depois de estes dados deprimentes é importante também olhar para as estatísticas e confirmar que é possível sobreviver na maior parte dos acidentes. Nos acidentes que decorreram nos Estados Unidos entre 1993 e 2000, envolvendo 53487 passageiros, 51207 sobreviveram. Isto significa que mais de 90% sobreviveram. Mesmo nos 26 acidentes mais graves metade dos passageiros sobreviveu.
Mesmo tendo isto em conta, o avião é o modo de transporte mais seguro do mundo. Existe apenas uma probabilidade de 1/4 700 000 de o pior acontecer. E, pelo sim pelo não, mais vale não estar no lugar errado.
O Documentário pode ser visto no 4oD ou no youtube mas julgo que apenas para quem está no Uk.
PS- um pouco off topic mas já repararam que em Português do Brasil não se diz aterragem? Será que agora temos todos de escrever e dizer "aterrizagem"?
5 comentários :
Aterrizagem? Nao passa pela cabeca de ninguem. Eu costumo ficar perto da asa, por acaso. E olha, a titulo de curiosidade, ja estou a viver em Londres e ja tenho emprego :)
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Que bom, seja bem vinda!
Foste tu que trouxeste a primavera(leia-se temperaturas acima dos zero)?
Não me digas que conseguiste o teu flat a 500£ com despesas (acho que era isto) que eu atiro-me ja da janela!
Obrigada pelas sugestoes dos locais para comer sushi/coreano/etc. Vou de certeza tentar cada um com tempo! E sim, ir ao Itsu nao foi a minha ideia mais brilhante, mas online nao parecia muito mau haha
E sim, consegui o meu flat (va, o meu quarto com acesso total a uma cozinha, uma casa de banho e uma sala de estar) por £430 excluindo despesas haha Estou a 2/3 minutos do metro (na zona 3, a 20 minutos de metro de Oxford Circus) :D
Tenho tido uma sorte do diabo, confesso. Encontrei o quarto no dia a seguir a ter chegado, abri a conta no terceiro dia, arranjei emprego logo na primeira semana e fui aceite no mestrado para onde mandei candidatura em Janeiro (na University of the Arts London). Nao sou provavelmente um caso tipico de emigrante, mas tambem nao sei se ha casos tipicos..
emprego full time? em que area?
conheco varias pessoas a procurar emprego ha meses que n encontram (mas tb n estao a procurar algo do estilo pub ou loja de roupa).
estou mesmo surpreendido com o preco mas qtos mais vivem na mesma casa?
e agora vou-me atirar da janela...
Grande sorte joana!!! Parabens!
Aproveita os fins de semana para conheceres bem a cidade, ha muita coisa para ver...
Recomendo que não faças "turismo", pois pagar 25£ para subir á tower bridge + 30£ para entrar na london tower + .... e assim a despesa dispara!!! :D
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