O governo Britânico
lançou a campanha "the year of code". O ano em que tenta convencer os Britânicos
a aprender a programar. (tipo o projecto Magalhães mas em útil e sem um cartel). Para isso vai investir 500 mil libras para formar professores durante 6 meses. Que depois vão incluir estas matérias nos seus currículos a crianças entre os 5 e os 16 anos (em vez de lhes oferecer um portátil para jogarem angry birds).
Criaram este video promocional para incentivar todos a aprender a programar, hoje, com a ajuda
deste site:
Os entendidos dizem que 10% da economia britânica tem como base a programação.
E por isso, para manter a tradição de criadores nesta indústria (
Tim Berners-Lee, o inventor da internet, é Londrino) querem apostar nesta disciplina antes de perderem o comboio. Há mesmo quem diga que programar vai tomar o lugar dos
três erres.
Eu percebo esta iniciativa. E defendo-a. Investir em skills em vez de betão e alcatrão. Eu mesmo acho que só cheguei a considerar o curso de engenharia informática porque vários anos antes tive uma professora que me despertou a curiosidade pelo caixote branco. Com 10 anos a minha professora de História convidou todos os alunos das suas várias turmas para terem aulas de informática extra-curriculares e voluntárias. Isto numa altura (1992) em que os Pcs não eram de todo comuns...nem nas escolas. Julgo que éramos menos de 10 os que aceitámos. Ao início estava todo entusiasmado só por tocar no teclado mas depois a excitação desapareceu quando a professora transformou a aula de informática numa aula de dactilografia. E todos tínhamos de copiar um texto a nossa escolha e depois imprimir numa daquelas impressoras a agulhas que demoravam uns 5 min por página. Apesar de não ter gostado muito da experiência ficou a curiosidade de ver como funcionava tudo o resto.
Como estava a dizer, eu concordo com a iniciativa. Mas não tanto com a mensagem. Porque existe esta ideia de que é fácil programar. De que "eu não tive a sorte de aprender isso na escola/faculdade ...senão... eu tenho tantas boas ideias...".
Há cerca de 4 anos um amigo meu economista veio com esta conversa.
-Quanto tempo achas que precisas para criar um sistema onde todos podem ver televisão via internet. Todos os programas, filmes em qualquer lugar do mundo a toda a hora.
e continuava...
- Porque eu vejo que o futuro é que a televisão vai passar a ser na internet.
Ora hoje todos nos rimos disto porque as box on-demand e os serviços como o Netflix já são tão comuns que não parece nada de novo. Mas, na altura, não era assim tão comum...excepto para quem lê as notícias dos Estados Unidos ou Uk. Em Inglaterra já tinhamos o serviço BBCIplayer que fazia isso mesmo.
Mas a atitude dele era que bastava contratar "X programadores/hora...da india ou assim, baratos". Como se a ideia dele (provavelmente copiada de um artigo do financial times) fosse o verdadeiro produto e os outros teriam de a colocar em produção como se fossem macacos.
Tentei fazer-lhe algumas perguntas. "Bom...imaginando que tens a aplicação feita...como é que estas a pensar servir milhares de utilizadores concorrentes?"...ele desculpava-se que hoje isso já acontecia (como se fosse facil...nem sei se chegou a citar "a google faz...").
Quero com isto dizer que há (e ja tive a oportunidade de trabalhar com muitos deles) muita gente que julga ter as ideias mais originais do mundo e que pensa que isto de programar. De arquitectar uma solução. De fazer engenharia de sistemas...é fácil. E videos e sites como os que referi acima ajudam também a vender essa ideia. De que conseguimos fazer um site (pagina web=web site=facebook!) num dia.
Há 100 anos, eu podia dizer o mesmo sobre ler e escrever que hoje se está a querer dizer sobre programar ou coding. E podia dizer que é uma skill que vai ser essencial no futuro. E certamente muitos iriam rir e gozar. "Ler? quem é que precisa de ler contos e historias da treta? Têm é de criar vacas e plantar batatas. Isso é que coloca comida na mesa...um livro não dá de comer a ninguém". Hoje todos percebemos como quem não sabe ler ou escrever não terá grandes oportunidades de trabalho e, pior ainda, é facilmente manipulado.
Mas também, se fosse 1914, podia dizer que eu posso ensinar alguém a escrever num dia. A sério! Basta debitar o que eles têm de escrever. Eles decoram e fazem uns rascunhos no papel e voila...aprenderam a escrever!
Exactamente da mesma forma, que hoje, estão a vender que é aprender a fazer um site ou uma app num dia.
Tal como uma coisa é escrever...outra é conseguir colocar no papel tudo aquilo que pensas...e outra, ainda, é colocar no papel algo que provoca interesse nos outros.
Também é verdade que posso ensinar html e css em 7 horas...e conseguir que consigam cuspir uma pagina cá para fora. Outra coisa é pegar nas ideias loucas de project managers e product owners e conseguir colocá-las num ecrã. E outra...criar algo que um deixa um vasto número de utilizadores viciado.
Por isso imaginar um novo ebay, google, ou facebook não é original nem é facilmente implementável. Mas uma coisa é certa. Todos eles começaram com um
Hello World.