Agora com todas estas polémicas sobre as agressões no colégio militar lembrei-me de dois momentos na minha vida em que tive contacto directo com essa tribo.
Quando tinha 12 anos e ganhei o campeonato de tenis da minha escola fui a um daqueles torneios inter-escolas. Como era o único rapaz da minha escola presente no torneio, fui bater bolas sozinho para as traseiras do pavilhão. Alguns minutos depois estava a falar com um tipo muito hirto e de cabeça rapada. Não sabia o que era o "colégio militar" (achei que fosse uma escola como outra qualquer) mas depois de ver um senhor de cabelos brancos com uma mão postiça a chama-lo de parte para dizer "não fales com o inimigo", sabia que não era nesse colégio que queria estar.
Anos passados não sei se foi exactamente essa a frase que o senhor da protese usou mas lembro-me da forma como me olhou e de como gritava para dentro do cort para com o seus pupilos.
Acabei por jogar contra um colega desse mesmo rapaz que tinha conhecido antes e levei uma valente coça.
Saí do pavilhão com a imagem de um grupo de putos vestidos de igual, com o mesmo corte máquina zero sem um esboço de sorriso.
Poucos anos depois quando me preparava para as competições de Shotokan (arte marcial) reparei que tinhamos um novo colega no ginásio. O mestre gabava-se de ter como aluno aquele miúdo que, agora que os campeonatos se aproximavam, fazia 2 treinos por dia todos os dias da semana e Sábados. Tendo para isso que saltar de ginásio em ginásio.
Apesar de ser alguns anos mais novo que eu tinha resistência suficiente para suportar todo aquele treino. Aparentemente um rapaz normal, havia ali algo diferente. A dificuldade em sorrir ou em fazer comentários de qualquer tipo ao mestre. Mas se aí passava por normal tudo se alterava quando o seu Pai o ia buscar. Todo ele se endireitava de uma forma robótica. E as críticas do Pai após ele não vencer todas as competições em que se tinha inscrito.
Aqui há dias deixei um comentário no facebook a um colega que se gabava de :
"ex-aluno do Colégio Militar e tem muito orgulho nessa Casa e nos valores fundamentais que esta promove!"
Respondi:
"Isso mesmo camarada...marchar DIREITA...Haaashh! 10 de bruços...Hiiiishh!".
Comentário esse que foi removido...
...parece que liberdade de expressão é um daqueles valores que não se incute no colégio militar.
Fotografia © Paulo Carriço - Lusa
2 comentários :
Esse senhor, o da mão, era na altura instrutor militar e preparador físico, de seu nome Durão (tenente-coronel).
Sou ex-aluno e aquilo que aqui li não só é verosímil, como é uma pequenina amostra do ambiente que sempre se viveu naquela instituição.
Seria interessante verificar o que é feito dos filhos desse senhor, que frequentaram todos o Colégio Militar. Têm decerto grandes resultados em provas físicas, mas veja-se-lhes o cadastro e tirem-se as conclusões devidas sobre a educação a 'dobrar' de que foram vítimas.
Que escola, perante tantos casos de maus tratos provados, resiste incólume com manifestações de apreço por parte de pais de alunos? Que outra escola resistiria perante acusações tão graves?
Não é na história nem na tradição, mas sim no corporativismo e no silêncio que encontraremos as respostas.
Quais terrenos, qual especulação imobiliária? Mas está tudo maluco ou acham que o mundo é cor de pinhão?
Sem querer denegrir a imagem do que quer que seja gostaria de agradecer o seu comentário. E o que, com ele, acrescentou ao post.
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