Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better. Samuel Beckett

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Churrasco saudável? Adicione Cerveja.

Uma das grandes instituições do (curto) verão aqui em Londres é o Barbecue (ou churrasco). Basta o sol espreitar e começamos a ter aquele cheirinho espalhado pela cidade. Mas isso tem um preço. O processo de grelhar a carne cria moléculas de hidrocarbonatos aromáticos policiclicos. (lembro-me de nas aulas de química do secundário falaram do compostos aromáticos como se fossem sinónimos de cancerígenos enquanto pediam para colocar a rede de amianto (igualmente cancerígeno) por cima do bico de bunsen).
E estas moléculas são conhecidas por provocarem alterações no Adn causando cancro do cólon. Manchando a imagem do Barbecue. Até agora.
Uma equipa de investigadores da Universidade do Porto liderada por Isabel Ferreira encontraram uma alternativa. Basta adicionar cerveja. De preferência preta.

A vida é, portanto, bem melhor depois de umas jolas.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Happy 20th Birthday Friends

O meu primeiro contacto com a série Friends foi quando estreou na RTP1 em 1998. Lembro-me de na altura terem feito muita publicidade durante semanas sobre a série de grande sucesso americano. Mas também me lembro quando vi os primeiros minutos. Ou melhor. Quando ouvi os primeiros minutos. Era uma dobragem vergonhosa que mais parecia um anúncio de um produto espanhol. "Que merda é esta!?". E não consegui mais ver.

Foi só quando cheguei a Londres que fiquei realmente a conhecer a série...também era difícil não dar por ela. Porque estava constantemente a dar no Channel 4. Era uma rajada de episódios diária. Ao ponto de eu deixar a televisão ligada e aquilo tornar-se no som ambiente da casa. As gargalhadas pré-gravadas. As musicas da Phoebe. O "how are you doing?".

Tanto foi a lavagem cerebral que levei que, quando fui a Nova Iorque, perdi uma hora a procura da prédio dos Friends algures em Greenwich Village.

Friends não vendia só gargalhadas. Mas também a ideia romântica de flat share. Na vida real os teus flat mates...não são os teus amigos. Nem a tua sala tem espaço suficiente para ter uma mesa de matrecos.

Até que em fevereiro de 2010 a notícia caiu como uma "bomba". Após 15 anos a rodar séries como se fossem frangos o Channel4 ia deixar de transmitir o Friends. Hoje ainda é possivel ter o ocasional binge watching no canal E4 mas nada como antes.

Há duas semanas encontrei o sofá da café central Perk na estação de comboios de Marylebone numa promoção dos DVDs.

Faz hoje 20 anos que a série estreou na NBC.



Mais rápido que o tube

Quantas vezes desesperei quando o metro rasteja a cada estação e pensei "até eu corro mais rápido que isto!". Pois James Heptonstall também, e fez isso mesmo. Aceitou o desafio de ser mais rápido que o metro entre Mansion House e Cannon St bem no coração de Londres.



Sei que alguns vai perguntar "para que serve isto?". Ou focar no risco que ele representou para os outros com quem podia chocar na estação. Mas eu acho que ele certamente adicionou algo a quem estava no metro naquele dia (e que aplaudiu). Tornou o dia um pouco mais alegre.

James apanha a mesma linha que eu diariamente e tem uma recomendação:
" I usually get the Northern line to work in the morning - it is not an enjoyable experience so I sometimes run or cycle if I can."

Acho que é isto que distingue os Ingleses (e outra culturas) do resto do mundo. Onde uns veem um continente gelado, outros veem o polo norte. Onde uns veem uma montanha com 8Km de altitude, outros aceitam um desafio. Onde uns desesperam na Northern Line outros traçam um plano para serem mais rápidos que o metro. E porquê? Porque nunca foi feito.

"It always seems impossible until it's done."
- Nelson Mandela

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Former UK

Nos últimos meses o que mais se fala nos média britânicos é o referendo Escocês. E tem mostrado exemplos de muitos que seguiram os mesmo caminho, que estão no processo (Quebec) ou que sonham em conseguir (Catalunha). E tem sido interessante a comparação com a Checoslováquia. As diferenças entre o nível de vida de Praga e de Bratislava.

Visitei Bratislava no inicio deste ano e achei realmente semelhante a um lugar como Glasgow. Sujo, cheio de sem-abrigo, alcoólicos e prostitutas. Nesse sentido Glasgow já está a conseguir ter os "benefícios" de um estado pobre e independente. O problema é que se já estão assim hoje...não sei como será depois da separação.

Tem existido muitas discussões sobre o que acontece ao restante Reino Unido. Se fica com a mesma bandeira. Se fica com o mesmo nome. Mas o que mais gostei foi do raciocínio que o programa NewsNight da bbc2 fez na semana passada. Qualquer coisa como:

When Yugoslavia split, part of it became "Former Yugoslavia".
If Scotland leaves we will no longer be United Kingdom.
Thus becoming Former United Kingdom...or FUK.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O Referendo Escocês

No próximo dia 18 (*alguns) escoceses vão decidir se entram em modo BraveHeart (ja agora um dos filmes que mais irrita um escocês). É um assunto muito sério que a SkyNews decidiu explicar desta forma em apenas 90 segundos.




*curiosamente apenas os que vivem na Escócia...

Enfermagem no Reino Unido

Recebi um comentário de um enfermeiro Anónimo que esta a planear vir para o UK com a sua mulher e filho. É um comentário bastante esclarecedor e que pode servir de ponto de discussão e refleccao para muitos. Também importa ter em conta que este caso é de um casal que tem experiência profissional de 8 anos.

... sei de colegas que saem de Portugal (com a tal ilusão da conversão em euros do salário - que muitas vezes exibem cheios de orgulho) e depois se desiludem por tomarem em consideração o custo de vida. De todo o modo, e também baseado nas experiências melhor sucedidas de alguns amigos, direi que o dinheiro é apenas uma das variáveis a considerar. Ou seja, a decisão não deverá ter só em conta o factor financeiro.

Alguns pontos a considerar:

- o horário de trabalho normal é 37,5h
- os turnos de 12h (solução ainda não adoptada por cá, pelo menos massivamente) permitem-te um equilíbrio com a vida pessoal muito melhor - trabalharás em média apenas 3 dias por semana. Um amigo relatava-me que neste mês terá 15 dias de folgas.
- o investimento na formação profissional não só é instigado, como te ajudam na sua prossecução (nomeadamente financiando os cursos e dispensando-te de horas de trabalho).
- Além de haver uma carreira organizada com progressões definidas, a formação de que falava em cima PODE ser frutuosa. Este é um ponto muito importante para mim - considerando que já estou a terminar o terceiro curso superior (lic. em enfermagem e pós-grad e mestrado em gestão em saúde).
- O trabalho dos enfermeiros, pelas experiências que me têm relatado, encontra-se muito melhor definido e, nesse sentido, protegido. Por cá, trabalhamos continuadamente em zonas cinzentas.
- Há benefícios associados ao facto de seres trabalhador do NHS e a reputação dos enfermeiros, pelas polls que tenho lido, encontra-se de boa saúde(ver, como exemplo, aqui: http://www.angusreidglobal.com/wp-content/uploads/2012/09/2012.10.02_Professions.pdf)

Finaceiramente:
No nosso caso (somos um casal + um jovenzinho), temos visto propostas que rondam no mínimo os 34K (já com 20% de suplemento pelo facto dos hospitais serem na inner London), ou seja 68K para os 2. Juntando uns rendimentos que temos cá e transportaríamos para aí, estaríamos a falar de valores perto dos 75K. Sei perfeitamente que o salário é banal considerando a média nacional e de Londres. De referir que as ofertas assumem o topo da band 5 (o início está destinado a enfermeiros com formação superior recém-formados, presumo) - ou seja, és posicionado de acordo com a tua experiência (ou deverias!). Outra vantagem é que ficas "à boca" da band 6 que é para onde os enfermeiros com formação clínica adicional (feita no UK) são colocados, mediante concurso ou procedimentos mais nebulosos. Não me parece lógico - a não ser em situações anormais no país de origem - um enfermeiro com alguma experiência (>5 anos) aceitar um ordenado de 21K ou até menos, sobretudo para lares, como tenho visto. Para isso, deixe-se estar quieto em Portugal.

Outra grande diferença encontra-se no pagamento das unsocial hours. Enquanto que cá em Portugal, o pagamento dos suplementos de trabalho nocturno, fins-de-semana e feriados é totalmente residual e insignificante, no NHS as gratificações continuam a ser minimamente justas. Ou seja, ainda temos que juntar ao salário os dividendos daqui obtidos.

Outra diferença é que vai continuando a existir necessidade de horas de enfermagem colmatadas através dos chamados bank shifts, que mais não são que turnos extraordinários pagos em double time, salvo erro.

Pelas muitas contas que tenho feito (tendo por base também os valores de amigos que residem em Putney e Brompton) e considerando que a grande fatia de despesa será o arrendamento de casa (considerando o miúdo numa escola pública - que gozam de uma boa reputação), no meu caso pessoal, juntando as vantagens não-directamente-financeiras ao salário, a solução emigrar não se assemelha uma parvoíce desesperada.
Ou seja, o que me move não é a necessidade asfixiante de emprego e/ou dinheiro. Nem tudo será um mar de rosas, mas a estagnação profissional em Portugal dá cabo de mim.


Mas quero sublinhar esta parte:
Não me parece lógico - a não ser em situações anormais no país de origem - um enfermeiro com alguma experiência (>5 anos) aceitar um ordenado de 21K ou até menos, sobretudo para lares, como tenho visto. Para isso, deixe-se estar quieto em Portugal.
Nem todos os contractos no UK são iguais. Não se deixem deslumbrar pelos casos de relativo sucesso...pensem no conjunto dos casos. Meçam o risco. Tenham um plano B (ou mesmo C) e não pensem apenas naquilo que podem ganhar mas aquilo que, garantidamente, vão perder.

domingo, 17 de agosto de 2014

A Geração Y por Ana Cristina Pereira

Hoje foi publicado o terceiro dos artigos do jornal Publico sobre as diferentes gerações Portuguesas. Em vez de enviarem um estagiário (da geração Z) para o aeroporto da portela entrevistar emigrantes e familiares deram o trabalho a premiada Jornalista Ana Cristina Pereira. E, esta, escolheu entrevistar membros da "geração do milénio" mas também sociólogos e historiadores (you know...aqueles que conseguem analisar a actualidade com objectividade). Não se deixou levar pelo sensacionalismo barato nem deixou o trabalho a meio. Mostrou dados estatísticos e analise cientifica. Quem me dera que o "jornalismo" que nos entra pela casa a dentro todas as noites fosse todo assim.

O artigo de hoje desperta-me um interesse especial porque foca na "minha" geração. Digo "minha" porque acho que existe uma grande diferença entre os que nasceram na primeira metade dos anos 80 e os da segunda. E, ainda maior, entre os que nasceram nos anos 80 ou 90.

O artigo é intitulado "Os que aprenderam a transformar a necessidade em virtude". Que não concordo. Dos vintinhos aos trintinhos (segundo a definição do Miguel Esteves Cardoso) não acredito que sequer metade tenha tentado transformar fosse o que fosse. Que se tenha tentado adaptar à realidade que vive. São inflexíveis nos seus "ideais" ou direitos. E a prova está na elevada taxa dos que não estudam nem trabalham ("No ano passado, era de 14,1 a percentagem de jovens entre os 15 e os 24 anos que não estudavam nem trabalhavam").
Por isso acho que o título mais indicado deveria de ter sido o que foi associado à geração seguinte:
"Criados para aquilo que não podem ou não querem ser"
Porque acho que fomos demasiadamente protegidos e pouco habituados a lidar com a fracasso. Lembro-me de colegas meus receberem consolas de jogos como motivação para o ano seguinte por terem chumbado. Ou os da segunda metade dos anos 80 receberem um carro como prémio por entrarem para universidade, isto é, por fazerem nada mais do que a sua obrigação. Assim, receber um não numa entrevista de emprego sem receber depois uma consola de jogos, torna a realidade muito mais difícil de enfrentar.
Logo fomos educados e formados para áreas que o mundo não pediu nem precisa porque comprámos a ideia de que podemos fazer aquilo que quisermos independentemente de alguém estar interessado nisso. O facto de existir já é por si só suficiente para ter direito a uma vida confortável (que chamamos de "digna" mas na realidade vem com mais alguns zeros). E tudo o que seja menos que isso é um falhanço e um assalto a um futuro por direito. Se por um lado não podemos ser aquilo que o mercado de trabalho precisa (porque escolhemos seguir uma área diferente), também não queremos ser os talhantes ou canalizadores porque somos muito mais que isso...mesmo estando no desemprego durante anos à espera de um emprego que não existe.

Do artigo destaco:

"Pôr os holofotes nos emigrantes qualificados pode servir para alimentar a narrativa do Portugal moderno, com que a geração Y cresceu. O risco disso será a ocultação dos não qualificados que partem, a maioria, e a desvalorização dos que ficam, como aconteceu noutras épocas, previne o historiador."
"Muitos pais esforçaram-se para dar aos filhos o que nunca tiveram. Tentavam prever as suas necessidades, protegê-los de todos os males, elogiar as suas proezas, recompensar os seus esforços, fazê-los acreditar que podiam ser tudo o que quisessem. Agora, esperam encontrar o mesmo reconhecimento e recompensa no mercado de trabalho. E sentem, diz José Machado Pais, “uma frustração relativa”. Há, salienta, um saldo negativo entre o que têm e que pensam que deveriam ter. E a comparação com os outros não ajuda."
"Não é uma perda de população “definitiva”. Muitos partem para situações precárias e reemigram ou regressam ao ponto de partida. Pouco ou nada, nesta geração, é para sempre."
“Ia sentir-me um bocadinho mal por a minha mãe e mesmo o Estado terem apostado em mim tantos anos e eu ir embora agora que já posso contribuir...”
 É muito fácil confundir comodismo com Patriotismo. Não é o caso da referida no artigo (porque trabalha) mas existem muitos casos de Patriotas desempregados durante anos que acusam os que saem de "fugir". O que é mais patriótico? Um subsídio de desemprego ou uma remessa de emigrante?
" Licenciada em Psicologia e pós-graduada em Terapias Expressivas, só conseguiu um vínculo estável na clínica da família. O pai, dentista, queria ajudá-la a abrir caminho, mas a clientela não justificava. "
Curioso que se for o filho do Durao ou o irmao do vereador chama-se clientelismo, tachismo...corrupção. Mas se for para "os nossos" é apenas oferecer o lugar que merecem e que o sacana do mercado de trabalho recusou...estamos só a oferecer um lugar merecido porque o "País os desprezou". Ignorando que existem outras centenas com melhores qualificações que não tiveram a sorte de ter um lugar por ajuste directo. E o mais grave...é que este clientelismo, esta lei da cunha esta tão enraizado na nossa cultura que nem vergonha temos de o contar nas linhas de um jornal.

domingo, 3 de agosto de 2014

Secretário de Estado das Comunidades @ Publico

Hoje saiu no jornal Publico uma entrevista com o Secretário de Estado das Comunidades José Cesário. Que foca nas razões para as queixas contra vários consulados mundo fora (sim, não é apenas em Londres), como a falta de recursos.

"Tem havido um aumento do recurso aos nossos serviços de pessoas que nos inquirem acerca de ofertas de emprego que se iam traduzir em burlas."

Já tomei conhecimento, quer por mail quer por casos de conhecidos de amigos, de "ofertas de emprego" que são claramente burlas. Coisas como "recebi uma proposta muito boa (ordenado estupidamente alto para as competências que pedem) e agora só preciso de pagar 200£ para tratarem de papelada e do visto de emprego, será que é uma burla?". Onde desconfiam que é burla e "tu" confirmas que só pode ser burla e mesmo assim "acho que vou arriscar". Quem não sabe o que significa estar no espaço europeu e paga para um "visto de trabalho" está a pedir para ser enganado.

"não deixamos de encontrar pessoas que amiúde vão para alguns países, muitas vezes porque alguém na terra deles lhes disse: “Vem por aí, isto resolve-se”. Normalmente são pessoas que vão de autocarro, que partem com 70 ou 100 euros no bolso e um número de telefone de uma pessoa que não sabem se existe."

Aqui falam de vir com 70 a 100€ no bolso. Eu conheço casos de quem veio com 10 vezes mais que isso e mesmo assim só se safar com o sofá do amigo e a viagem de regresso paga pelos pais. 1000€ não é nada para começar uma vida em Lisboa, quanto mais em Londres. Só para conseguirem um contracto de arrendamento têm de dar mais de um mês de avanço e caução...e depois comem o que?
Mesmo imaginando um quarto baratissimo a 400£/mês. Os senhorios pedem normalmente 6 semanas de avanço. (Em alguns casos até 3 meses!). Isso daria a volta de 554£ (hoje 694€). O que significa que ficariam com apenas 306£ Desses...teriam de gastar 77.60£ para o passe de autocarro (sobram 228£). Mas tendo também em conta uma perspectiva optimista de que encontram emprego em menos de um mês, só irão receber ordenado no mês seguinte. Mas mesmo que os 228£ (por milagre) cheguem para despesas e alimentação para o resto do mês, ainda têm de ter novamente 400£ no final do mês para pagar renda. Isto porque a renda é sempre paga em avanço. Logo mesmo tendo emprego no final do mês já estão falidos e sem dinheiro para comprar viagem de regresso a Portugal.
Por isso é que começam a aparecer nas ruas alguns Portugueses iludidos com esta nova moda da emigração para Londres que se vêem na condição de sem abrido em menos de nada.
Isto é mesmo para assustar. Façam contas antes de sair. Este problema é real e acreditem, é bem mais fácil estar desempregado em Portugal do que em Londres.

Temos efectivamente alguns problemas de resposta na rede consular. Fundamentalmente, em alguns postos que não têm a dimensão suficiente para o crescimento que as respectivas comunidades tiveram.[...]
O que nos cria problemas, e, efectivamente, temo-los em casos como Londres, Manchester, Estugarda ou Luanda, são os postos que não têm dimensão para responder, não só às necessidades das comunidades portuguesas, mas também à procura de vistos da parte de cidadãos estrangeiros.

Eu também sou muito crítico do funcionamento do Consulado (e dos funcionários Públicos em Portugal em geral) mas já imaginaram bem quantos "Portugueses" somos no mundo? Eu conheci um, de Goa, que nunca tinha ido a Portugal e que se despedia de mim com "Hasta Manhana" (eu eu respondia "Não, Ray. Isso é espanhol!"). Ele, irmãos, sobrinhos, pais e avós...eram todos Portugueses sem nunca terem pisado solo Português e, mais grave que tudo, sem saberem falar nada da língua.
Também temos "Portugueses" de Burka que não falam Português nem Inglês...mas têm todo o interesse em ter cartão do cidadão não vão eles perder as ajudas sociais ou, pior, serem repatriados para trás do sol posto.
Os consulados têm de lidar com isto (que obviamente não acelera os processos) como com a crescente vinda de Portugueses para o Reino Unido cheios de "direitos adquiridos" e tiques de novo-riquismo.
E a todos eles pergunto: "Quanto é que contribuem para o funcionamento dos serviços que usam?" Zero.

Mesmo tendo descontado alguns anos não posso exigir ter departamentos e funcionários a trabalharem para mim 8h por dia, 12 meses por ano. Aquilo que descontei no passado era para as instituições que me ajudaram (ou outros) no passado...porque hoje eu não dou um tusto para o estado Português. E nem me venham com a conversa das remessas dos emigrantes que sao do interesse puramente privado.
Por isso mete-me um bocadinho de vergonha ver tantos tugas que nem sequer chegaram a descontar alguma vez na vida, exigir que os consulados (sejam de onde forem) sejam mais eficientes ou tão rápidos como pedir uma Pint. Especialmente porque nunca pensaram em pedir para que os emigrantes "revoltados" contribuíssem financeiramente para aquelas instituições. Ou imaginar se o consulado não existisse e tivessem todos de pagar uma viagem para Portugal para poder renovar o passaporte e, mesmo assim, ter consciência de que nem para estes contribuíram.

Temos muita gente licenciada com cursos superiores que literalmente não servem para nada no mercado de trabalho. Encontramos indivíduos licenciados em Direito ou com uma licenciatura em Ensino a lavar pratos — e se estiverem a servir à mesa não é mau, porque é sinal que pelo menos falam a língua local. 

Aqui ele toca na ferida. Desmistifica a ideia de que todos os licenciados que saem de Portugal sao "desprezados" ou "abandonados" pelo País, mas que "lá fora" são "cérebros", valorizados e respeitados. O que é uma tremenda mentira. Existem muitos que são tão desajustados ao mercado de trabalho Português como de grande parte do mundo.

Mas já há países, como o Luxemburgo, que mandaram sociólogos para Portugal para estudar as novas vagas de emigrantes portugueses que, pouco tempo depois de emigrarem, estavam a cair nas malhas do Estado social local.
Temos algumas franjas. Temos sete mil desempregados portugueses no Luxemburgo. 
A estes desempregados eu pergunto: O que acham de espanhóis, gregos ou italianos irem para Portugal não a procura de emprego mas de desemprego. E manterem-se por lá consumindo os recursos dos contribuintes, sobrando menos para todos? Estão à espera de quê para regressar a Portugal? É culpa do estado Luxemburguês o facto de estarem desempregados?
Este é o lado vergonhoso da emigração Portuguesa que felizmente não é a regra. Aqueles que perguntam primeiro quanto é o subsidio de desemprego. Ou quando "é que o estado dá" por cada filho. Talvez por isso conheça um casal que esta no Luxemburgo, sem a escolaridade obrigatória de hoje. Ela empregada doméstica desempregada, ele pedreiro. Mas que conseguem sustentar 3 filhos. Ou isso, ou talvez seja porque o generoso estado social paga um valor incremental mensal por cada filho até aos 18 anos...

Como vêem. O retrato do Secretário de Estado das Comunidades é bem diferente daquele que os telejornais fazem no aeroporto da Portela.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Economia no Reino Unido 2014



Na passada Sexta feira foi publicada mais uma previsão do FMI sobre a economia do Reino Unido. E, aparentemente, são boas notícias. A economia cresceu 0.8% nos últimos meses e que, segundo dizem, isso significa que está finalmente ligeiramente acima dos primeiros meses que resultaram na dupla recessão.

A Sky criou um widget onde podemos comparar o desempenho das varias regiões. Comparar, por exemplo, vencimentos, preço médio de habitação ou desemprego.
Pode ajudar para ver o ordenado médio da área onde receberam uma proposta de emprego.
Mas também é preciso ter em conta que alguns dos dados (como o vencimento) são de 2012.



Nele é possível ver um país a duas velocidades. Temos Londres e o resto.
Mas também conseguimos ver que mesmo com um ordenado médio que é 30% superior a média nacional é curto para um custo médio de habitação que chega a ser mais de duas vezes e meia superior á media nacional. Que acho que reflecte uma realidade: Quem compra em Londres não é com rendimentos de Londres (capital estrangeiro).
Mesmo um valor tão elevado como £435 mil acho curto para os preços que vejo. É um valor que abrange toda a área urbana de Londres. Porque só na minha rua um flat com apenas um quarto numa casa victoriana convertida (que duvido que algum Português alguma vez comprasse se fosse em território nacional) vendeu por £370mil. As casas/flats que considero de família custam mais de £1 milhão. E se considerarmos as zonas mais centrais ou de luxo aí falamos de dezenas de milhões.

Reuni as comparações entre Londres e o País, assim como entre o centro de Londres e o outer Londres.


Podemos ver como a taxa de desemprego jovem é superior em Londres do que a media nacional. Que pode querer dizer que Londres procura mais profissionais com alguns anos de experiência,. Mas também que há uma certa cultura de "vou ficar aqui a espera de um emprego para as minhas capacidades" (tentando vingar nas artes por ex) ignorando que ele não existe. Não muito diferente do que encontramos em Portugal.

E também podemos ver como existem duas Londres. A Londres de Westminster ou Islington (inner) e a Londres de Croydon ou Ealing (outer). E conseguimos ver que no centro se ganha mais e que fora há mais desemprego (ou...mais pessoas a pedir subsidio de desemprego).


Um do factores que anda de braço dado com as (i/e)migrações é o estado da economia. Acho que mesmo para a "geração mais formada de sempre" existe muita impulsividade e pouco estudo quanto ao estado da economia do pais destino. Existe também uma certa ideia de uma entidade abstracta chamada "estrangeiro" (ou "lá fora") que é todo igual e sempre melhor que Portugal.

Só isso pode explicar a explosão de emigração de "amigos de amigos" para a Irlanda. País que o ano passado tinha 13,7% de desemprego e está agora nos 11,6%. Só para comparação, quando cheguei a Londres e tive sérias dificuldades em encontrar e manter emprego, o desemprego no Reino Unido estava nos 7% e no auge da crise chegou aos 8,4% (hoje está nos 6,6%) (nessa altura também conheci vários Irlandeses...que tinham fugido da crise). Existe também uma ideia de que o Reino Unido é todo igual, que inclui a Irlanda (já que também falam Inglês) e que tudo tem os mesmos benefícios/oportunidades que Londres. Pegando no Tempo, a Irlanda é bem mais húmida, fria e tem ainda menos horas de sol que Londres (imagine-se). Então o que faz com que tanta malta que sempre conheci de óculos de sol e fato de banho húmido decida emigrar para um país com tal taxa de desemprego e que foi o primeiro a declarar falência? E a resposta é Herd Mentality (ou seguir o rebanho). Dos casos que conheço ninguém foi sozinho. Foram já com emprego no bolso e com amigos, colegas de faculdade ou de trabalho.

Sei que é difícil mas tentem ignorar o que os vizinhos dizem dos colegas dos primos. Pensem por vós. Se o Reino Unido ou Londres são o que procuram. Porque não será, certamente, o caso para todos.

sábado, 19 de julho de 2014

Não és especial

Acho que o mal chegou ao mundo no instante em que nos sentimos especiais. Naquele momento em que começámos a achar que tem de existir uma razão para estarmos aqui. Que temos um dever a cumprir.

É algo que me realmente fode ver Doutorados, Mestres ou apenas aqueles que têm séculos de investigação nas pontas dos dedos e que, mesmo assim, optam por pensar: "não é bem assim...tem de haver uma razão para estarmos cá. Senão isto não faria sentido!"

Esta lógica da tanga (e de tanga porque não tem qualquer fundamento) é uma "qualidade" bastante humana. Alias...eu desconfio que estamos hardwired para pensar desta forma. Se subitamente nos apercebêssemos do irrelevante que somos, desconfio que haveria por aí uns quantos suicídios em massa. (daí a achar que esta forma de pensar que tudo tem um sentido e que estamos sempre protegidos é um sistema anti-suicidio).

Acredito que a maioria tenha ficado chocada com a notícia da queda do voo MH17. É normal (ou mesmo instinto natural) sentir empatia pelos que sofrem. Mas fiquei irritado quando vi uma entrevista ao casal Irlandês que não entrou naquele voo por sorte.

Como pode alguém dizer que a razão porque foi poupado do voo MH17 foi porque "Alguém deveria de estar a olhar por nós".
E ignorar que no mesmo exacto momento "Alguém" estava a condenar 298 pessoas a morte?

Acho que o mal chegou ao mundo no instante em que nos sentimos especiais. Mais especiais que o próximo.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Os double deckers dizem adeus aos trocos



A semana passada recebi um email da TFL a informar que apartir de 6 de Junho os Autocarros de Londres (ou double deckers) deixarão de aceitar qualquer forma de pagamento em dinheiro.

I am writing to remind you that from this Sunday, 6 July, you will no longer be able to use cash to pay for your bus fare.

Instead of cash, you can use an Oyster or contactless payment card for the £1.45 pay as you go adult fare.

If you don’t have enough credit on your Oyster card or your Bus & Tram Pass or Travelcard has just expired, you can now make one more journey on a bus. You must then top up your pay as you go credit before you can use your Oyster card again.
Este é também um dos motivos porque os transportes públicos têm feito greves no último ano. Com a diminuição de pagamentos com dinheiro deixa de fazer sentido existirem tantos balcões de pagamento nas estações. Um estudo concluiu que menos de 1% dos passageiros pagava as suas viagens no autocarro em dinheiro.

Até agora uma viagem paga a dinheiro no autocarro era mais cara que quando paga com o sistema contacless do Oyster.
O Oyster card é um cartão que funciona como passe social de uma forma semelhante ao Lisboa Viva. Podemos depositar dinheiro no Oyster (fazendo o que chamam de Top Up) que depois é deduzido a cada viagem que fazemos. Depois de associado o Oyster a uma conta online é possível fazer TopUp e consultar as viagens e gastos no site da TFL assim como definir um sistema de auto-TopUp que te carrega automaticamente quando o credito chega a um certo valor para que nunca fiques apeado.

E quando me esquecer o Oyster? Aí é possível fazer o pagamento com um cartão de débito/crédito contactless. Sem ter de pagar mais do que se fosse por Oyster.

Há uns 5 anos bastava ir a uma estação de metro para pedir um Oyster a custo zero. O problema foi o abuso que fez com que tantos usassem o Oyster como um bilhete descartavel. Entretanto passou a custar 3£ que, tanto quanto sei, podem ser devolvidos depois de devolvido o Oyster.

Mas e os turistas?
Não me lembro de ver turistas a contar trocos a porta de um autocarro. Aliás torna-se difícil distinguir as notas e moedas por isso desconfio que um turista já venha precavido e tenha um Travelcard ou um Visitor Oyster Card. O problema pode acontecer se aterrarem a horas tardias e aí sempre podem usar um cartao de credito contactless.

Resumido vão existir estas forma de pagar num autocarro:
 Mais informações aqui.

sábado, 21 de junho de 2014

Soul of Fado @ Cutty Sark Gardens, Greenwich



Começa esta semana mais um Greenwich and Docklands International Festival (GDIF). E começa com sotaque Português. Hoje Nuno Silva apresenta o seu Soul of Fado. Um espetáculo de dança contemporânea.

Onde: Cutty Sark Gardens, Greenwich, SE10
Quando: 21 Junho 22h
Quanto: borlix.

No entanto no mesmo dia e à mesma hora temos também o Safe House. Pelas mãos da mesma companhia que nos trouxe "As The World Tipped" neste mesmo festival em 2011.

Onde:Haverfield Green, Mile End Park, London, E3
Quando: Hoje
Quanto: 0£

Caso percam esta possibilidade vale a pena ver o programa deste festival, com 11 anos, completamente de borla que tenta animar uma zona zombie da cidade (Canary Wharf...Docklands...). O que gosto mais não é só por ser um festival de família (de gente que realmente mora em Londres em vez de putos hipster-turistas) ou até por ser um festival amigo de quem tem alguma incapacidade. Mas porque é um festival onde a incapacidade é uma mais valia dentro e fora do espetáculo. Lembro-me de espectáculos como o The Iron Man onde a incapacidade (como não ter braços ou pernas) acrescentava valor ao espectáculo. Formando e pilotando um robot. Esta forma de mostrar que não se trata de uma incapacidade mas de uma diferença que só tem a acrescentar ao espectáculo, é um dos valores que mais gosto no festival.
Para não falar nas zonas que reservam para que todos possam ver, ou vivenciar, o espectáculo. Seja com auscultadores ou linguagem gestual.

Vale a pena.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

World Cup

'Some people believe football is a matter of life and death, I am very disappointed with that attitude. I can assure you it is much, much more important than that.' 
Bill Shankly

sexta-feira, 23 de maio de 2014

The Carnation Revolution Between African Anticolonialism and European Rebellion @ Birkbeck Uni

Está a decorrer desde ontem no Institute for the Humanities da universidade de Birkbeck em Londres uma conferencia sobre o nosso 25 de Abril assim como o processo de descolonização.
Com a organização do professor Dr Luís Trindade, da mesma universidade, podemos ouvir (hoje apartir das 17h) uma analise da nossa revolução pelas vozes dos ingleses Hilary Owen (University of Manchester) e Odd Arne Westad (LSE). Será que vão falar de tudo o que se destruiu com o PREC?

Pena é que o façam num horário impossível para quem trabalha.

Understanding Europe: Why It Matters and What It Can Offer You

 Uma das coisas que me tem assustado mais nas ultimas semanas foi a campanha para as Europeias em Portugal. Ouvi lideres de partido prometerem que um isto seria um voto para derrubar o governo. Que seria um paco para devolver as reformas e o estado social. E ainda ouvi uma besta dos acores que se fosse eleito deputado europeu ia devolver o escudo a Portugal.

O que me assusta não é que tenhamos tantos imbecis a fazer campanha em Portugal. O que me assusta é que os media não questionem esta ignorância. Não porque não querem...mas porque não sabem. O que me assusta é que o eleitorado não saiba para o que vai votar. O meu grupo de amigos/conhecidos vai desde a escolaridade obrigatória até ao pós-doutoramento e o discurso que oiço é o mesmo...que "todos são iguais" e que "temos de derrubar este governo". O que prova que um canudo não é sinonimo nem de inteligência nem resulta num espírito critico.

As eleicoes europeias no uk foram ontem (que fica para outro post) mas antes de pensar no que podem fazer no proximo domingo invistam algum tempo a perceber para que servem estas eleicoes.

Para tornar isto mais facil esta a decorrer um "curso" online completamente grátis sobre "Understanding Europe: Why It Matters and What It Can Offer You". Nele um italo/espanhol com uma forma de falar irritante explicar quais as intituicoes europeias e para que servem. Tenta desmistificar alguns teorias sobre a europa e relembra-nos como tantas coisas que tomamos como garantidas em termos de direitos do consumidor foram resultantes de votos de deputados no Parlamento europeu.

Os 22 deputados do Parlamento Europeu que vamos eleger podem apenas votar contra, a favor ou emendar legislação criada pela comissão Europeia.

As eleições europeias não vão acabar com a austeridade. Não vão derrubar o governo. Não vão dar um cartão vermelho a ninguém. Não vão trazer as "nossas vidas" de volta.

terça-feira, 11 de março de 2014

Conferência da Emigração Portuguesa Contemporânea @ ISCTE



A investigadora (ou Cientista Social) Cláudia Pereira enviou-me este comunicado:

Gostaria de vos convidar para estarem presentes na Conferência da Emigração Portuguesa Contemporânea, a ter lugar nos dias 12 e 13 de Março, no ISCTE-IUL , caso estejam em Lisboa. Estarão presentes os investigadores que pesquisam a emigração actual para países da Europa, Angola e Brasil, entidades públicas e privadas que lidam com emigrantes (como o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas), bem como o Professor Russell King (Sussex University), que enquadrará as migrações no Sul da Europa. Em princípio, o evento terá cobertura da RTP.

Há cerca de um ano tive uma entrevista com a Cláudia e quero acreditar que contribuiu para os resultados surpreendentes que teve. Quem diria que a maioria dos emigrantes que vão para o Reino Unido não são trabalhadores altamente qualificados (na realidade são apenas 1/5)?

Tenho recebido alguns emails e conhecido relatos de Portugueses muito mal informados (ou que simplesmente não se deram ao trabalho de informar - "é preciso ter visto para trabalhar no uk?") e esta é uma excelente oportunidade par aprender algo sobre a emigração pelas mãos de quem a realmente estudou (;-) jornalistas).

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Bay Leaves

No outro dia comprei louro no Sainsbury's. Nunca me lembrei de alguma vez ter comprado. Em Portugal temos sempre um vizinho ou um arbusto no quintal. Uma embalagem pequena de pouco mais que 10 folhas que custou 1£ (cerca de 1,22€). Não queria acreditar.

Mas quando estava a procura da origem fiquei bem surpreendido.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

The Year of Code


O governo Britânico lançou a campanha "the year of code". O ano em que tenta convencer os Britânicos a aprender a programar. (tipo o projecto Magalhães mas em útil e sem um cartel). Para isso vai investir 500 mil libras para formar professores durante 6 meses. Que depois vão incluir estas matérias nos seus currículos a crianças entre os 5 e os 16 anos (em vez de lhes oferecer um portátil para jogarem angry birds).
Criaram este video promocional para incentivar todos a aprender a programar, hoje, com a ajuda deste site:


Os entendidos dizem que 10% da economia britânica tem como base a programação.
E por isso, para manter a tradição de criadores nesta indústria (Tim Berners-Lee, o inventor da internet, é Londrino) querem apostar nesta disciplina antes de perderem o comboio. Há mesmo quem diga que programar vai tomar o lugar dos três erres.

Eu percebo esta iniciativa. E defendo-a. Investir em skills em vez de betão e alcatrão. Eu mesmo acho que só cheguei a considerar o curso de engenharia informática porque vários anos antes tive uma professora que me despertou a curiosidade pelo caixote branco. Com 10 anos a minha professora de História convidou todos os alunos das suas várias turmas para terem aulas de informática extra-curriculares e voluntárias. Isto numa altura (1992) em que os Pcs não eram de todo comuns...nem nas escolas. Julgo que éramos menos de 10 os que aceitámos. Ao início estava todo entusiasmado só por tocar no teclado mas depois a excitação desapareceu quando a professora transformou a aula de informática numa aula de dactilografia. E todos tínhamos de copiar um texto a nossa escolha e depois imprimir numa daquelas impressoras a agulhas que demoravam uns 5 min por página. Apesar de não ter gostado muito da experiência ficou a curiosidade de ver como funcionava tudo o resto.

Como estava a dizer, eu concordo com a iniciativa. Mas não tanto com a mensagem. Porque existe esta ideia de que é fácil programar. De que "eu não tive a sorte de aprender isso na escola/faculdade ...senão... eu tenho tantas boas ideias...".

Há cerca de 4 anos um amigo meu economista veio com esta conversa.
-Quanto tempo achas que precisas para criar um sistema onde todos podem ver televisão via internet. Todos os programas, filmes em qualquer lugar do mundo a toda a hora.
e continuava...
- Porque eu vejo que o futuro é que a televisão vai passar a ser na internet.

Ora hoje todos nos rimos disto porque as box  on-demand e os serviços como o Netflix já são tão comuns que não parece nada de novo. Mas, na altura, não era assim tão comum...excepto para quem lê as notícias dos Estados Unidos ou Uk. Em Inglaterra já tinhamos o serviço BBCIplayer que fazia isso mesmo.

Mas a atitude dele era que bastava contratar "X programadores/hora...da india ou assim, baratos". Como se a ideia dele (provavelmente copiada de um artigo do financial times) fosse o verdadeiro produto e os outros teriam de a colocar em produção como se fossem macacos.

Tentei fazer-lhe algumas perguntas. "Bom...imaginando que tens a aplicação feita...como é que estas a pensar servir milhares de utilizadores concorrentes?"...ele desculpava-se que hoje isso já acontecia (como se fosse facil...nem sei se chegou a citar "a google faz...").

Quero com isto dizer que há (e ja tive a oportunidade de trabalhar com muitos deles) muita gente que julga ter as ideias mais originais do mundo e que pensa que isto de programar. De arquitectar uma solução. De fazer engenharia de sistemas...é fácil. E videos e sites como os que referi acima ajudam também a vender essa ideia. De que conseguimos fazer um site (pagina web=web site=facebook!) num dia.



Há 100 anos, eu podia dizer o mesmo sobre ler e escrever que hoje se está a querer dizer sobre programar ou coding. E podia dizer que é uma skill que vai ser essencial no futuro. E certamente muitos iriam rir e gozar. "Ler? quem é que precisa de ler contos e historias da treta? Têm é de criar vacas e plantar batatas. Isso é que coloca comida na mesa...um livro não dá de comer a ninguém".  Hoje todos percebemos como quem não sabe ler ou escrever não terá grandes oportunidades de trabalho e, pior ainda, é facilmente manipulado.
Mas também, se fosse 1914, podia dizer que eu posso ensinar alguém a escrever num dia. A sério! Basta debitar o que eles têm de escrever. Eles decoram e fazem uns rascunhos no papel e voila...aprenderam a escrever!
Exactamente da mesma forma, que hoje, estão a vender que é aprender a fazer um site ou uma app num dia.

Tal como uma coisa é escrever...outra é conseguir colocar no papel tudo aquilo que pensas...e outra, ainda, é colocar no papel algo que provoca interesse nos outros.
Também é verdade que posso ensinar html e css em 7 horas...e conseguir que consigam cuspir uma pagina cá para fora. Outra coisa é pegar nas ideias loucas de project managers e product owners e conseguir colocá-las num ecrã. E outra...criar algo que um deixa um vasto número de utilizadores viciado.

Por isso imaginar um novo ebay, google, ou facebook não é original nem é facilmente implementável. Mas uma coisa é certa. Todos eles começaram com um Hello World.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Notting Hills B&B

[este é um daqueles posts que ficaram em draft e que caíram no esquecimento]
23-01-2009.

Telefono para o número do bed and breakfast que me foi fornecido e combinamos uma hora para conhecer a casa.
Apanho o 38 até Holborn. E vou na Central line até Notting Hill gate. Ao sair neste admirável mundo novo sigo as indicações do caderno Moleskine que me custou os olhos da cara. Mesmo assim não evito andar perdido por momentos. Fachadas imaculadamente brancas com ferraris, mazerattis, e um mustang clássico à porta.



Toco e surge uma senhora idosa com uma postura muito clássica. Passava perfeitamente por sósia de Margaret Thatcher.

A casa parece não ter paredes. Apenas quadros, molduras, fotografias. Paredes forradas a quadros de crickett, fotos de família. Pede-me para aguardar por momentos. Minutos depois sai um senhor que julgo ser o médico. Entro na cozinha/sala e na tv (sim, não é gralha) passa a BBC radio. Música clássica aos berros que dificultou o diálogo.
Sentámo-nos na mesa de jantar e fico a saber que teve uma empregada portuguesa durante 20 anos que agora adoeceu. "Now I have a Philipine." - diz.
Respondo-lhe à pergunta incómoda do emprego. Digo-lhe a verdade. Que estou a procura. Que não devo ter problemas em arranjar nesta área. Fico a saber que não poderei ficar no quarto por um mês como falado. Mas apenas por duas semanas até 16 de Fevereiro.

O filho entra na sala. Um homem nos seus 30s que parecia vindo de cascais. Só faltou o cabelo estilo cão de água com risco ao lado.
Sigo o senhor escadas acima e é-me apresentado o quarto. Simpático mas parecia que estava a ver tudo a preto e branco. O quarto é saído de um filme de época. Onde as empregadas vestiam-se todas de igual e os senhores andavam de chapeu alto e cabeleira na rua.
O telemovel toca. Número inglês, só pode ser emprego. Atendo. Perguntam-me se é mal altura. Olho alarmado para o homem e digo que neste momento estou numa reunião. Para me telefonar dentro de 20minutos.
Aquecimento, ok. Enorme janela para ver as mansões dos visinhos... Wc com porcelana antiga mas limpa.
Descemos as escadas e o filho despede-se da Sra dizendo que está com pressa. Segue pelo corredor rumo á porta. Fico sem tema de conversa e a Margaret diz-me com um sorriso simpático "Quer que o meu filho lhe faça companhia?" (não me recordo das exactas palavras mas sei que fiquei embasbacado por ela estar basicamente a mandar-me embora daquela forma). Pergunto-lhe se temos tudo acordado. Sim. Então siga.
À porta o filho pergunta-me se conheço a zona. Dá-me indicações para o tube e para os cafés mais próximos. Preciso de um sitio calmo para atender a chamada.

Entro numa cadeia de cafés mundialmente conhecida, em que o nome começa por estrela e acaba com...guito no final. Guitos de estrela numa tradução livre e descomprometida. Não ha uma única mesa disponível. Saio e vejo ao fundo outra cadeia mundialmente conhecida por vender hambúrgueres de elevado teor de gordura. Entro e peço a sande de coirato acompanhada com a mini lá do sitio. Coloco o telemóvel em cima da mesa para ser mais rápido a atender a chamada, como no faroeste. Acabo a refeição e nada. Fico mais uns minutos e nada.

Saio e sigo sem sentido pelas ruas esperando ainda ir a tempo de tirar uma ou outro foto que preste. Vejo uma igreja ao longe com o sol a por-se. Puxo da máquina e preparo-me para disparar. O telemovel começa a tocar. Apresso-me para o agarrar mas ele esta bem preso no fundo do bolso do sobretudo. Finalmente agarro-o e atendo... fora de tempo. Grito palavras tipicamente portugueses que são oportunas nestas alturas. Não tocou muito tempo. Só o tempo suficiente para me deixar frustrado.

Tiro mais umas fotos. Nenhuma que preste. E fico alguns minutos a olhar para as ruas arranjadas. Como seria um sonho viver aqui. Como vai ser um inferno viver numa casa de hábitos tão formais... e ainda pagar por isso.

Regresso a Piccadilly Circus apanhando o 49. Vejo o ao meu lado hyde park. Atrás de mim alguém come fritos mailcheirosos e ouve hipopalhada. Ahhh, é como estar em casa.

Chegado a Piccadilly perco-me nas ruas, tenho tempo. E dou por mim em Chinatown.
Dentro de poucos dias começa o ano Chinês. Celebrado por várias zonas da cidade. Quando é que o meu novo ano começa?


[Novidade]
Regresso a casa desanimado. Tento focar-me nos pequenos problemas mas só consigo ver o conjunto. Tou na M***! Mas ia ficar pior. Quando descubro que o lugar onde me sentei levou um banho de batido. E que o sobretudo esta cagado (o drama...o horror). A única peça que não podia sujar. Não sei como fico surpreendido. Já devia de saber desde os tempos de faculdade que "se algo pode correr mal, correrá. E na pior altura possível...".
Murphy dum CAR*****.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Sou contrabandista

Estava a colocar a mala no tapete, a rezar para que a mala não tivesse quilos a mais, e com esta musica na cabeça.


E não...nem todos os emigrantes gostam destas músicas "Portuguesas".
Eu nem sequer gosto da musica mas não me saía da cabeça.

Lembro-me de ao inicio recusar os chouriços, presuntos, doces, bacalhau e ate pão (pão? ridículo, não é? porque é que alguém ia oferecer umas bolas para levar na mala? agora levo nem que cheguem ca farinha de uma lado fermento do outro.)

Se colocassem todos estes produtos na mesa há 6 anos acho que nem lhes tocava. O facto de não estar acessível deu-lhes um novo status. Até o vinho martelo sabe melhor! É quase como a desculpa que um colega muçulmano me deu sobre o ramadão. Se te privares realmente de algo, quando o tiveres de volta, vai-te saber mil vezes melhor e vais passar a dar-lhe mais valor.

E fiquei a pensar ir amanha pra stockwell com o sobretudo. 'Psst. Queres fios d'ovos? Frutinhas do Algarve? 50g. '

Claro que isto dá asas para novas formas de ser humilhado. Como no Verão no aeroporto de Faro quando os senhores do raiox me perguntaram para abrir a minha mochila da maquina fotográfica.
- Estamos a ver aqui algumas massas. Sabe o que são? Importa-se de abrir a mochila?
- É possível que sejam...alheiras.

Abri e mostrei as 3 que lá tinha atafulhadas.
Depois de confirmarem que estava tudo ok perguntei timidamente se podia levar as alheiras.
- Claro que pode, mas se quiser deixa-las, nós não nos importamos.

Mas temos sempre outros compatriotas que ao descobrirem que trazes chouriços na mala torcem o nariz. "Eu nunca faria isso..." dizem por entre o seu estilo pseudo hipster.
O que eu tenho a dizer é "give it time".

Pode não ser bacalhau ou chouriço. Farinheira ou alheira. Presunto ou morcela. Mas a pouco e pouco terás umas queijadas do preto. Uns travesseiros. Uns pasteis de belem. Umas frutinhas do algarve.

Mas nem tudo é doce nesta vida de contrabandista. E, pela forma como as malas são tratadas pelas operadoras do aeroporto de Lisboa, Natal sim...Natal sim, recebo a minha mala neste estado.

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