Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better. Samuel Beckett

domingo, 3 de agosto de 2014

Secretário de Estado das Comunidades @ Publico

Hoje saiu no jornal Publico uma entrevista com o Secretário de Estado das Comunidades José Cesário. Que foca nas razões para as queixas contra vários consulados mundo fora (sim, não é apenas em Londres), como a falta de recursos.

"Tem havido um aumento do recurso aos nossos serviços de pessoas que nos inquirem acerca de ofertas de emprego que se iam traduzir em burlas."

Já tomei conhecimento, quer por mail quer por casos de conhecidos de amigos, de "ofertas de emprego" que são claramente burlas. Coisas como "recebi uma proposta muito boa (ordenado estupidamente alto para as competências que pedem) e agora só preciso de pagar 200£ para tratarem de papelada e do visto de emprego, será que é uma burla?". Onde desconfiam que é burla e "tu" confirmas que só pode ser burla e mesmo assim "acho que vou arriscar". Quem não sabe o que significa estar no espaço europeu e paga para um "visto de trabalho" está a pedir para ser enganado.

"não deixamos de encontrar pessoas que amiúde vão para alguns países, muitas vezes porque alguém na terra deles lhes disse: “Vem por aí, isto resolve-se”. Normalmente são pessoas que vão de autocarro, que partem com 70 ou 100 euros no bolso e um número de telefone de uma pessoa que não sabem se existe."

Aqui falam de vir com 70 a 100€ no bolso. Eu conheço casos de quem veio com 10 vezes mais que isso e mesmo assim só se safar com o sofá do amigo e a viagem de regresso paga pelos pais. 1000€ não é nada para começar uma vida em Lisboa, quanto mais em Londres. Só para conseguirem um contracto de arrendamento têm de dar mais de um mês de avanço e caução...e depois comem o que?
Mesmo imaginando um quarto baratissimo a 400£/mês. Os senhorios pedem normalmente 6 semanas de avanço. (Em alguns casos até 3 meses!). Isso daria a volta de 554£ (hoje 694€). O que significa que ficariam com apenas 306£ Desses...teriam de gastar 77.60£ para o passe de autocarro (sobram 228£). Mas tendo também em conta uma perspectiva optimista de que encontram emprego em menos de um mês, só irão receber ordenado no mês seguinte. Mas mesmo que os 228£ (por milagre) cheguem para despesas e alimentação para o resto do mês, ainda têm de ter novamente 400£ no final do mês para pagar renda. Isto porque a renda é sempre paga em avanço. Logo mesmo tendo emprego no final do mês já estão falidos e sem dinheiro para comprar viagem de regresso a Portugal.
Por isso é que começam a aparecer nas ruas alguns Portugueses iludidos com esta nova moda da emigração para Londres que se vêem na condição de sem abrido em menos de nada.
Isto é mesmo para assustar. Façam contas antes de sair. Este problema é real e acreditem, é bem mais fácil estar desempregado em Portugal do que em Londres.

Temos efectivamente alguns problemas de resposta na rede consular. Fundamentalmente, em alguns postos que não têm a dimensão suficiente para o crescimento que as respectivas comunidades tiveram.[...]
O que nos cria problemas, e, efectivamente, temo-los em casos como Londres, Manchester, Estugarda ou Luanda, são os postos que não têm dimensão para responder, não só às necessidades das comunidades portuguesas, mas também à procura de vistos da parte de cidadãos estrangeiros.

Eu também sou muito crítico do funcionamento do Consulado (e dos funcionários Públicos em Portugal em geral) mas já imaginaram bem quantos "Portugueses" somos no mundo? Eu conheci um, de Goa, que nunca tinha ido a Portugal e que se despedia de mim com "Hasta Manhana" (eu eu respondia "Não, Ray. Isso é espanhol!"). Ele, irmãos, sobrinhos, pais e avós...eram todos Portugueses sem nunca terem pisado solo Português e, mais grave que tudo, sem saberem falar nada da língua.
Também temos "Portugueses" de Burka que não falam Português nem Inglês...mas têm todo o interesse em ter cartão do cidadão não vão eles perder as ajudas sociais ou, pior, serem repatriados para trás do sol posto.
Os consulados têm de lidar com isto (que obviamente não acelera os processos) como com a crescente vinda de Portugueses para o Reino Unido cheios de "direitos adquiridos" e tiques de novo-riquismo.
E a todos eles pergunto: "Quanto é que contribuem para o funcionamento dos serviços que usam?" Zero.

Mesmo tendo descontado alguns anos não posso exigir ter departamentos e funcionários a trabalharem para mim 8h por dia, 12 meses por ano. Aquilo que descontei no passado era para as instituições que me ajudaram (ou outros) no passado...porque hoje eu não dou um tusto para o estado Português. E nem me venham com a conversa das remessas dos emigrantes que sao do interesse puramente privado.
Por isso mete-me um bocadinho de vergonha ver tantos tugas que nem sequer chegaram a descontar alguma vez na vida, exigir que os consulados (sejam de onde forem) sejam mais eficientes ou tão rápidos como pedir uma Pint. Especialmente porque nunca pensaram em pedir para que os emigrantes "revoltados" contribuíssem financeiramente para aquelas instituições. Ou imaginar se o consulado não existisse e tivessem todos de pagar uma viagem para Portugal para poder renovar o passaporte e, mesmo assim, ter consciência de que nem para estes contribuíram.

Temos muita gente licenciada com cursos superiores que literalmente não servem para nada no mercado de trabalho. Encontramos indivíduos licenciados em Direito ou com uma licenciatura em Ensino a lavar pratos — e se estiverem a servir à mesa não é mau, porque é sinal que pelo menos falam a língua local. 

Aqui ele toca na ferida. Desmistifica a ideia de que todos os licenciados que saem de Portugal sao "desprezados" ou "abandonados" pelo País, mas que "lá fora" são "cérebros", valorizados e respeitados. O que é uma tremenda mentira. Existem muitos que são tão desajustados ao mercado de trabalho Português como de grande parte do mundo.

Mas já há países, como o Luxemburgo, que mandaram sociólogos para Portugal para estudar as novas vagas de emigrantes portugueses que, pouco tempo depois de emigrarem, estavam a cair nas malhas do Estado social local.
Temos algumas franjas. Temos sete mil desempregados portugueses no Luxemburgo. 
A estes desempregados eu pergunto: O que acham de espanhóis, gregos ou italianos irem para Portugal não a procura de emprego mas de desemprego. E manterem-se por lá consumindo os recursos dos contribuintes, sobrando menos para todos? Estão à espera de quê para regressar a Portugal? É culpa do estado Luxemburguês o facto de estarem desempregados?
Este é o lado vergonhoso da emigração Portuguesa que felizmente não é a regra. Aqueles que perguntam primeiro quanto é o subsidio de desemprego. Ou quando "é que o estado dá" por cada filho. Talvez por isso conheça um casal que esta no Luxemburgo, sem a escolaridade obrigatória de hoje. Ela empregada doméstica desempregada, ele pedreiro. Mas que conseguem sustentar 3 filhos. Ou isso, ou talvez seja porque o generoso estado social paga um valor incremental mensal por cada filho até aos 18 anos...

Como vêem. O retrato do Secretário de Estado das Comunidades é bem diferente daquele que os telejornais fazem no aeroporto da Portela.

1 comentário :

Andie disse...

Li esta entrevista e tambem pensei seriamente sobre os pontos dos quais falas. Os meus comentarios sao os seguintes:
1) acerca dos servicos consulares tenho muitas historias para contar, especialmente com o consulado de Manchester. Eu entendo que sejam servicos super requisitados e vi exactamente o mesmo que tu, quando fui a Manchester: emigrantes portugueses que nao falam portugues, a renovar o seu CC, em fila interminavel, mesmo que o servico seja por marcacao. Ate' ouvi o comentario do funcionario que me atendeu: "ah finalmente uma portuguesa a serio". Deixo reticencias nesse comentario, pois achei de pessimo gosto. Ao olhar da lei portuguesa, acredito que desde que se tenha o passaporte/ CC portugues, e'-se portugues e nao ha categorias de portugueses. O servico e' mau para todos, nao e' por eu falar portugues que deveria ser atendida mais rapidamente.
Quando falas de descontar para servicos publicos para os quais se devera' esperar um servico minimamente celere a resolver o nosso problema... acho que tocas num problema da situacao geral do Estado Social. Supostamente 'e para todos. Mesmo os que nao descontaram recentemente ou que ainda nao comecaram a contribuir.
Resumindo e concluindo, o servico consular Portugues e' mau. Nao e' por ser lento que e' mau, e' pela falta de informacao que dao, pela falta de apoio e completa falta de educacao que alguns dos seus empregados tem (nao so' nao informam e nao sabem informar, como muitas vezes sao arrogantes para quem tenha mais dois dedos de testa e saiba falar portugues). E nao e' porque eu nao trabalho/ trabalhei em Portugal e pago/ paguei impostos que eles deveriam trabalhar melhor para me atender. E' porque sou cidada~ e preciso da ajuda deles para resolver burocracias do Estado Portugues.
Curiosamente, devo tb acrescentar que ja tive de resolver o meu problema burocratico a ir a Lisboa de proposito para isso, isto porque ambos os consulados se recusaram a resolver o meu pequenino problema... (isto, para espanto das funcionarias do IRN que me explicaram que os empregados dos consulados deveriam ter-me ajudado). Eu apresentei queixa e nada aconteceu. Curisoamente para se deixar queixa em livro amarelo (oficial), teria de ir com marcacao.

2) O que dizes da ideia de emigrante portugues "mala de cartao" em Londres 'e totalmente certa. Vezes e vezes sem conta que ja' referi esses mesmos tipos de contas a amigos meus que pensam em vir "'a aventura" para Londres. E eu nem vivo em Londres! por isso nem sei bem as contas ao certo, mas sei do sistema (como o das rendas em avanco), e isso simplesmente e' algo que ninguem considera.
E' por isso que muitas das entrevistas naqueles programas do "portugueses pelo mundo" sao coisas que considero publicidade enganosa.

Finalmente, queria adicionar, que ha uns 7 anos conheci emigrantes portugueses em Peterborough que queriam claramente fazer turismo social (viver de beneficios do sistema social ingles) ate' poderem arranjar emprego. Talvez os inumeros casos destes e de outro tipo de emigrantes e' o que tenha despoletado a mais recente onda de ressentimentos contra os emigrantes no UK. Mas mais uma vez, e' outro problema do Estado Social. Supostamente, 'e para todos. Ate' que mudem as regras... e ai' deixara' de ser social.

Popular posts

Followers :

Tags

Closed Stations

Tag Cloud

Music Portugal Gigs Tube City Life Cultures Banksy Street Art TV Elections Festival Holborn Sainsburys Workplace flat hunting Brexit Football Lisboa bicycle Eleições GDIF Snow Sport arquitectura BBC Britain Canary Wharf Charities Comedy Deolinda Emigration Greenwich Humour Photography commute wage Ahhhh Saudadeeeee Arte Beer Benfica Camden Town Chelsea Chinatown ClaphamJunction Emigrante English English People Euro Flu Graffiti Halloween Islington Movies NHS Old Street Olympic Games Oxford Street Rough Trade Royal Family Seinfeld Tax Tooting Trafalgar Square Urban Voo Weather theater Accent Anniversary Argentina Art Bank Bank Holiday Boat Race Brasil British Museum Buenos Aires Cambridge Christmas Lights Christmas Tree City Docs Drinks EasyJet Economics Entrevista Euro 2012 Europe Holiday Ice Impostos Iran Ireland Jornalismo Language Livros London Marathon Lost in translation MEC Marathon Meditation Metronomy National Insurance Number National Portrait Gallery Nevão New Oxford Street Notting Hill Oxford Circus Piccadilly Circus Pub Referendum Riot Roller skate Royal Weeding Santa Scotish Scotland Sintra South Bank TimeLapse Union Chapel Vencimento Volcano World Cup coffee cycle economy lux nurse AI Alain de Botton America Anarchy Ano Novo Chinês António Damásio Apple Arcade Fire Argos August Balham Barbecue Beach Beckett Bed and Breakfast Benefits Big Ben Big Train Blasted Mechanism Blitz Blur Boeing 747 Bomba Boobs Booze Boris Johnson Brighton Bristol Britcom Brixton Bus Business CCTV CSS CV Cannon St Caribou Cell Cerebro Champions League Charles Dickens Cheias Chevrolet Cicio Cities City Airport Cloud Clubs Colégio Militar Comic Relief Consulado Covent Garden Cowards Cricklewood Croydon David Bowie Deflation Dia de todos os Santos Dublin East London Edward Hopper Eficiencia Einstein Euro 2016 Eyjafjallajokull Facebook Fado Figo Filand Flatiron Flight Friends Gherkin God Goodbye Gray's Inn Guincho Harrods Helpfull History Homeless House MD Hugh Laurie IPad Iceland Income Tax Interpol Iphone Jamie Oliver Jeremy Clarkson Jessie J Jobs Jogging Jonathan Ross José Saramago KOKO Katie B Kings Cross Laughter Lewisham Leyton Lianne Las Havas Litle Britain London 2012 London Bridge London Dungeon London Eye London Film Festival London Sealife Love Lupini MOD MS Madame Tussauds Madeira Maria Rita Marylebone Massive Attack May Mayor Mercearia Michael C Hall Microsoft Momento alto Money Monty Python Moonspell Movember Moçambique Mumbai NIN NYC National Insurance Nero Nuclear O2Arena OK Go Organ Oxford Oyster Pancake Paquistan Paralympic Games Peckham Pink Floyd Pistorius Play-Doh Poetry Pompeia Pontos da Semana Poppy Porto Primitive Reason Putney RATM Randy Pausch Recital Rejection Letter Religion Remembrance Day Renting Return Robert Capa Rota do Chá Royal Guard Run Rush Hour Rússia Save Miguel Saúde Science Shard Sikh Simpsons Sky Slang Sleet Space SpaceInvaders Sport Relief Square Mile St Patrick's Day St Paul's Cathedral Staind Stamford Bridge Storm Stratford Street Poet Strike Subsídios Summer Sun SuperBock Surf Swearing TFL TV Licence TV ads Tank Man Tea Telemovel Tesco Thames The Portuguese Conspiracy The Scoop The Smiths Tiananmen Tories Tower Bridge Tremoço Twitter UK VAT Vertigo Volvo WakeUpLondon Walkabout Waterloo Wembley Wimbledon Winter climbing code dEUS didgeridoo discotexas flat mate geek living cost march moulinex news pastel de nata plugs and sockets protest skyscraper west end