Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better. Samuel Beckett

domingo, 17 de agosto de 2014

A Geração Y por Ana Cristina Pereira

Hoje foi publicado o terceiro dos artigos do jornal Publico sobre as diferentes gerações Portuguesas. Em vez de enviarem um estagiário (da geração Z) para o aeroporto da portela entrevistar emigrantes e familiares deram o trabalho a premiada Jornalista Ana Cristina Pereira. E, esta, escolheu entrevistar membros da "geração do milénio" mas também sociólogos e historiadores (you know...aqueles que conseguem analisar a actualidade com objectividade). Não se deixou levar pelo sensacionalismo barato nem deixou o trabalho a meio. Mostrou dados estatísticos e analise cientifica. Quem me dera que o "jornalismo" que nos entra pela casa a dentro todas as noites fosse todo assim.

O artigo de hoje desperta-me um interesse especial porque foca na "minha" geração. Digo "minha" porque acho que existe uma grande diferença entre os que nasceram na primeira metade dos anos 80 e os da segunda. E, ainda maior, entre os que nasceram nos anos 80 ou 90.

O artigo é intitulado "Os que aprenderam a transformar a necessidade em virtude". Que não concordo. Dos vintinhos aos trintinhos (segundo a definição do Miguel Esteves Cardoso) não acredito que sequer metade tenha tentado transformar fosse o que fosse. Que se tenha tentado adaptar à realidade que vive. São inflexíveis nos seus "ideais" ou direitos. E a prova está na elevada taxa dos que não estudam nem trabalham ("No ano passado, era de 14,1 a percentagem de jovens entre os 15 e os 24 anos que não estudavam nem trabalhavam").
Por isso acho que o título mais indicado deveria de ter sido o que foi associado à geração seguinte:
"Criados para aquilo que não podem ou não querem ser"
Porque acho que fomos demasiadamente protegidos e pouco habituados a lidar com a fracasso. Lembro-me de colegas meus receberem consolas de jogos como motivação para o ano seguinte por terem chumbado. Ou os da segunda metade dos anos 80 receberem um carro como prémio por entrarem para universidade, isto é, por fazerem nada mais do que a sua obrigação. Assim, receber um não numa entrevista de emprego sem receber depois uma consola de jogos, torna a realidade muito mais difícil de enfrentar.
Logo fomos educados e formados para áreas que o mundo não pediu nem precisa porque comprámos a ideia de que podemos fazer aquilo que quisermos independentemente de alguém estar interessado nisso. O facto de existir já é por si só suficiente para ter direito a uma vida confortável (que chamamos de "digna" mas na realidade vem com mais alguns zeros). E tudo o que seja menos que isso é um falhanço e um assalto a um futuro por direito. Se por um lado não podemos ser aquilo que o mercado de trabalho precisa (porque escolhemos seguir uma área diferente), também não queremos ser os talhantes ou canalizadores porque somos muito mais que isso...mesmo estando no desemprego durante anos à espera de um emprego que não existe.

Do artigo destaco:

"Pôr os holofotes nos emigrantes qualificados pode servir para alimentar a narrativa do Portugal moderno, com que a geração Y cresceu. O risco disso será a ocultação dos não qualificados que partem, a maioria, e a desvalorização dos que ficam, como aconteceu noutras épocas, previne o historiador."
"Muitos pais esforçaram-se para dar aos filhos o que nunca tiveram. Tentavam prever as suas necessidades, protegê-los de todos os males, elogiar as suas proezas, recompensar os seus esforços, fazê-los acreditar que podiam ser tudo o que quisessem. Agora, esperam encontrar o mesmo reconhecimento e recompensa no mercado de trabalho. E sentem, diz José Machado Pais, “uma frustração relativa”. Há, salienta, um saldo negativo entre o que têm e que pensam que deveriam ter. E a comparação com os outros não ajuda."
"Não é uma perda de população “definitiva”. Muitos partem para situações precárias e reemigram ou regressam ao ponto de partida. Pouco ou nada, nesta geração, é para sempre."
“Ia sentir-me um bocadinho mal por a minha mãe e mesmo o Estado terem apostado em mim tantos anos e eu ir embora agora que já posso contribuir...”
 É muito fácil confundir comodismo com Patriotismo. Não é o caso da referida no artigo (porque trabalha) mas existem muitos casos de Patriotas desempregados durante anos que acusam os que saem de "fugir". O que é mais patriótico? Um subsídio de desemprego ou uma remessa de emigrante?
" Licenciada em Psicologia e pós-graduada em Terapias Expressivas, só conseguiu um vínculo estável na clínica da família. O pai, dentista, queria ajudá-la a abrir caminho, mas a clientela não justificava. "
Curioso que se for o filho do Durao ou o irmao do vereador chama-se clientelismo, tachismo...corrupção. Mas se for para "os nossos" é apenas oferecer o lugar que merecem e que o sacana do mercado de trabalho recusou...estamos só a oferecer um lugar merecido porque o "País os desprezou". Ignorando que existem outras centenas com melhores qualificações que não tiveram a sorte de ter um lugar por ajuste directo. E o mais grave...é que este clientelismo, esta lei da cunha esta tão enraizado na nossa cultura que nem vergonha temos de o contar nas linhas de um jornal.

1 comentário :

Pedro F disse...

Da geração de 70, criado e vivido num dos subúrbios da capital onde não existiam consolas ou telemóveis (wtf??) e os spectrum eram apenas para alguns, assisti ao que descreves no post. A malta andou enganada e quando foram confrontados com a realidade, foram literalmente atropelados e nem se aperceberam bem o que se passou. Já nos meus quarentas, também fui apanhado pelo downsizing, job market dumping ou outra qualquer buzz word que serve para justificar que apenas os sobrinhos e afilhados é que tem direito adquiridos. PQP. Em breve também estarei por Londres, sem olhar muito para trás. Talvez possamos beber um copo, who knows... Bom artigo. Abraço.

Popular posts

Followers :

Tags

Closed Stations

Tag Cloud

Music Portugal Gigs Tube City Life Cultures Banksy Street Art TV Elections Festival Holborn Sainsburys Workplace flat hunting Brexit Football Lisboa bicycle Eleições GDIF Snow Sport arquitectura BBC Britain Canary Wharf Charities Comedy Deolinda Emigration Greenwich Humour Photography commute wage Ahhhh Saudadeeeee Arte Beer Benfica Camden Town Chelsea Chinatown ClaphamJunction Emigrante English English People Euro Flu Graffiti Halloween Islington Movies NHS Old Street Olympic Games Oxford Street Rough Trade Royal Family Seinfeld Tax Tooting Trafalgar Square Urban Voo Weather theater Accent Anniversary Argentina Art Bank Bank Holiday Boat Race Brasil British Museum Buenos Aires Cambridge Christmas Lights Christmas Tree City Docs Drinks EasyJet Economics Entrevista Euro 2012 Europe Holiday Ice Impostos Iran Ireland Jornalismo Language Livros London Marathon Lost in translation MEC Marathon Meditation Metronomy National Insurance Number National Portrait Gallery Nevão New Oxford Street Notting Hill Oxford Circus Piccadilly Circus Pub Referendum Riot Roller skate Royal Weeding Santa Scotish Scotland Sintra South Bank TimeLapse Union Chapel Vencimento Volcano World Cup coffee cycle economy lux nurse AI Alain de Botton America Anarchy Ano Novo Chinês António Damásio Apple Arcade Fire Argos August Balham Barbecue Beach Beckett Bed and Breakfast Benefits Big Ben Big Train Blasted Mechanism Blitz Blur Boeing 747 Bomba Boobs Booze Boris Johnson Brighton Bristol Britcom Brixton Bus Business CCTV CSS CV Cannon St Caribou Cell Cerebro Champions League Charles Dickens Cheias Chevrolet Cicio Cities City Airport Cloud Clubs Colégio Militar Comic Relief Consulado Covent Garden Cowards Cricklewood Croydon David Bowie Deflation Dia de todos os Santos Dublin East London Edward Hopper Eficiencia Einstein Euro 2016 Eyjafjallajokull Facebook Fado Figo Filand Flatiron Flight Friends Gherkin God Goodbye Gray's Inn Guincho Harrods Helpfull History Homeless House MD Hugh Laurie IPad Iceland Income Tax Interpol Iphone Jamie Oliver Jeremy Clarkson Jessie J Jobs Jogging Jonathan Ross José Saramago KOKO Katie B Kings Cross Laughter Lewisham Leyton Lianne Las Havas Litle Britain London 2012 London Bridge London Dungeon London Eye London Film Festival London Sealife Love Lupini MOD MS Madame Tussauds Madeira Maria Rita Marylebone Massive Attack May Mayor Mercearia Michael C Hall Microsoft Momento alto Money Monty Python Moonspell Movember Moçambique Mumbai NIN NYC National Insurance Nero Nuclear O2Arena OK Go Organ Oxford Oyster Pancake Paquistan Paralympic Games Peckham Pink Floyd Pistorius Play-Doh Poetry Pompeia Pontos da Semana Poppy Porto Primitive Reason Putney RATM Randy Pausch Recital Rejection Letter Religion Remembrance Day Renting Return Robert Capa Rota do Chá Royal Guard Run Rush Hour Rússia Save Miguel Saúde Science Shard Sikh Simpsons Sky Slang Sleet Space SpaceInvaders Sport Relief Square Mile St Patrick's Day St Paul's Cathedral Staind Stamford Bridge Storm Stratford Street Poet Strike Subsídios Summer Sun SuperBock Surf Swearing TFL TV Licence TV ads Tank Man Tea Telemovel Tesco Thames The Portuguese Conspiracy The Scoop The Smiths Tiananmen Tories Tower Bridge Tremoço Twitter UK VAT Vertigo Volvo WakeUpLondon Walkabout Waterloo Wembley Wimbledon Winter climbing code dEUS didgeridoo discotexas flat mate geek living cost march moulinex news pastel de nata plugs and sockets protest skyscraper west end