Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better. Samuel Beckett

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Generation E.pt

Estive a ouvir e a ler uma reportagem de Lucy Ash sobre a nova emigração Portuguesa, para a BBC. Acho que vale muito a pena principalmente quem está à procura de uma motivação extra para sair.

Na reportagem Ângela tem 29 anos (curiosamente a minha idade) terminou o curso à 6 anos mas nunca conseguiu exercer a actividade de professora por mais de 9 meses (contínuos). Apesar de ter concorrido a 362 escolas não conseguiu colocação (se estas a ler isto e tens o teu emprego graças a uma cunha, esta é a altura para te encheres de vergonha).
A certa altura fala em não equacionar ir para um país africano (e acho que também se referia ao Brasil) por não conseguir viver com a pobreza e pedintes lado a lado (espero não ter percebido mal e não estar a cometer uma injustiça).

Quero pegar no caso da Ângela e usa-lo como uma generalização dos "cérebros" que temos em Portugal.
Apesar do grande esforço de candidaturas nunca saiu do conforto dos amigos e família no Porto (teve oportunidades para ir para o Alentejo com um contracto de 1 mês (que reconheço ser ridículo) mas nunca saiu do conforto daquilo que conhecia para arriscar 1 mês que poderia abrir outras oportunidades (o mais certo seria não acontecer)). Em 6 anos nunca pensou que deveria adaptar-se ao mercado (saturado de professores (especialmente de línguas como é o caso)) e usar as suas próprias valências para encontrar um emprego que lhe dessa a estabilidade que precisa (e não estatuto ou dinheiro).

{Vou fazer um parêntesis para escrever sobre a minha experiência na empresa onde estou agora. Só mais de 6 meses depois de ter começado a trabalhar nesta empresa é que me apercebi que alguns Senior Developers com quem trabalhava (com mais ou menos frequência) não tinham qualquer formação em Informática ou Computer Science. Um que está um passo abaixo do Architect (o topo da carreira nesta área) é Licenciado em Física pela Universidade de Oxford. Outro com quem trabalhei mais de perto (e que me apercebi que tinha falhas graves em conceitos básicos) era Engenheiro Mecânico. E o mais curioso de todos estes casos era o que é Licenciado em Zoologia pela Universidade de Cambridge. Aproveitei um dia de copos para perguntar o porquê de ele mudar de área (ainda por cima depois de ter ouvido as histórias do quanto Cambridge é exigente). Ele disse-me que Zoologia era uma área que lhe interessava. Que não se arrepende da formação que teve mas que não se via a vida inteira a fazer aquilo e... os ordenados em Informática eram muito mais atrativos.

Apenas tenho 4 anos de experiência, trabalhei em 5 empresas diferentes e em 7 clientes (assim por alto). E nunca vi um licenciado em línguas, psicologia, sociologia, etc, que trabalhasse nesta área (mas conheci uma Arqueóloga Tester). Raramente conheci alguém que, estando formado, equacione ir para uma área diferente. E esta mania de chamar "cérebros" a quem apenas tem um curso (que nunca será um atestado de inteligência) aflige-me. Cérebros são quem procura a partícula de Higgs Boson ou descobre um vírus que ataca células cancerígenas. Não um tipo que passou 3,4,5 anos a ir para um campus.

Nos últimos 3 meses tive o caso mais impressionante. O meu novo colega de equipa passou por várias dificuldades na vida e isso fez com que tivesse de começar por baixo. Trabalhar no tesco (um supermercado) a carregar e encher prateleiras, depois como caixa. Até chegar a esta empresa como alguém que desenhava emails (com html e css) e destacou-se por começar a programar nas horas livres para construir ferramentas que o ajudasse no trabalho. Concorreu a um emprego como web developer internamente e agora tem o emprego que desejava há anos.
Quantos "cérebros" Portugueses estariam dispostos a trabalhar como caixas para ter a estabilidade (de pagar a sua própria renda) e usarem as suas horas livres para se valorizarem numa área que tivesse empregabilidade? Não estou a falar em caça cursos, apenas para carimbar no CV. Mas em pegar nos livros e queimar a pestana por si mesmos.

Este novo developer sabe bastante mais do que eu e até arrisco mesmo dizer que há mesmo muito pouco que lhe possa ensinar. Mas é alguém que na hora de almoço esta a construir um jogo em XNA apenas por curiosidade (e com isso paga também uma licença de 99$ assim só por desporto).}

Fecha parêntesis. Se depois de 6 anos de uma carreira fracassada não agarramos um contracto de um mês num sítio diferente como é que vamos arriscar num país estrangeiro sem proposta alguma (e com concorrência de todo o mundo)?

Se somos um país de "cérebros" porque é que encontramos tanta dificuldade em ter ideias próprias?

4 comentários :

Nelson Correia disse...

Viva, venho só fazer um pequeno comentário (até porque o smartphone, por muito fixe que seja, não dá para grandes dissertações) em relação ao pessoal que trabalha na nossa área com outro curso ou mesmo curso nenhum.

Em Portugal também vi muito isso, no SAPO (único sitio onde trabalhei por lá, a fazer o que faço hoje). Dou o exemplo do meu chefe, que vinha da área de Direito, um dos líderes És equipa vinha de Filosofia e trabalha agora para o Google e são imensos os que por lá trabalham sem curso superior. Dito isto, posso também afirmar que não lhes via limitações relevantes que os fizessem ficar atrás dos outros com curso. Um ou outro conceito em falta, talvez por vezes se notasse, tal como dizes, mas nada que a sede de conhecimento e o gosto por aprender não superassem. E acho que é isto que faz falta a muita gente, mas que é comum encontrar em pessoal na nossa área.

London Calling disse...

curioso que alguém que nem tenha o requisito mínimo de curso na area nem sequer é chamado para a entrevista (de forma geral em Pt). Mas quem é chamado pode ficar com o lugar sem sequer escrever uma linha de código...

Bruno Mota disse...

Infelizmente a capacidade de adequação à sociedade e aos mercados não é uma coisa que se aprende numa faculdade. Como tal muitos licenciados ficam por longos períodos de tempo sem trabalhar simplesmente porque não encontram ou não conseguem nada na sua área. Parece existir uma certa vergonha em fazer trabalhos mais simples, mas isto é um problema cultural e que dificilmente vai ser ultrapassado. Outra coisa que acontece é o medo de largar o trabalho com contrato (mesmo que tenham um ordenado miserável) e arriscar, isto simplesmente porque as pessoas não acreditam em si mesmas.

London Calling disse...

Concordo com tudo o que disseste Bruno. "a capacidade de adequação à sociedade e aos mercados". O que os media dizem é exactamento o contrário- "A capacidade de a sociedade e os mercados absorverem estes licenciados." e é isso que me chateia.
E o medo de largar um emprego (ou mudar de carreira) porque não acreditam em si é o que se espera de quem não tem formação superior. Quem consegue acabar um curso devia de ser alguém que aprendeu a adaptar-se e que não se vai abaixo facilmente quando falha ou quando as circunstancias não lhe são favoráveis. O problema e que acho que muita gente esta a acabar agora os cursos apenas porque la andou 5 ou 4...ou 3 anos.

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