Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better. Samuel Beckett

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Não precisamos de mais Portugueses


Fervi quando vi este artigo. Mais um artigo fatalista, piegas e demagogo que os média Portugueses nos esfregam na cara todos os dias. O assunto emigração é vendido como um 8 (esta geração de "cérebros" a fugir de um País que "os atraiçoou") ou 80 (a investigadora X que trabalha com o novo prémio nobel da medicina, ou o designer Y que é candidato ao "Nobel" do design gráfico). É uma cruz que "os nossos gobernantes" nos obrigam a carregar...ou uma galinha de ovos de ouro onde o emprego, reconhecimento e qualidade de vida é de graça. Reflete um pouco uma sociedade pouco madura que só consegue ver as coisas a preto e branco.

Será que ficamos mais pobres por termos uma população estagnada nos 10 milhões? Por sermos um país pequeno?
Somos um país pequeno.
Somos pobres.
Logo todos os países pequenos são pobres?

Querem exemplos de países "pequenos" que invejamos?
Finlândia: 5.4milhões
Suíça:8milhões
Dinamarca:5.4milhões
Luxemburgo: 538 mil!

Vamos olhar para estas últimas décadas. O nosso problema é sermos apenas 10 milhões?
Nós não precisamos de mais Portugueses. Precisamos de Portugueses MELHORES! Estes 120mil/ano emigrantes não morreram, não desapareceram. Foram à procura de emprego e de uma vida melhor que permita sustentar filhos e até reinvestir dinheiro na economia Portuguesa sempre que regressam de férias (ou até permanentemente trazendo todas as poupanças).
O que é melhor? Um milhão no desemprego em Portugal (com gastos em subsídios e saúde) ou umas centenas de milhares empregados que foram construir carreira "lá fora" (com custo zero para o contribuinte tuga)?

Desenganem-se quem diz que quem fica o faz por Patriotismo. Que não "escolheu" o "caminho fácil" da emigração, porque "o amor também conta".
Quem está no desemprego é que não está, certamente, a contribuir para o crescimento.


Por outro lado podem pensar "sim, mas tens de ver que o problema não é sermos só 10M...mas termos cada vez menos nascimentos". É verdade que menos nascimentos significa menos futuros contribuintes para manter este sistema de pensões (que vai falir na próxima década, não se enganem). Será mesmo? Será que a maioria das pessoas que protesta na rua contribui o suficiente para a despesa que causa ao estado (saúde, educação, reforma)? Se todos ambicionasse-mos a escolaridade mínima, o ordenado mínimo. Acham mesmo que seria sustentável? (Façam este exercício. Imaginem um casal com dois filhos com o ordenado mínimo. Somem os subsídios que lhes são oferecidos devido aos seus rendimentos. As regalias, como não pagar manuais escolares ou alimentação nas escolas (se é que isso ainda acontece). E agora verifiquem as tabelas de IRS e subtraiam os custos de aluno numa escola...ou mais interessante, de dois filhos numa faculdade pública (de preferência a tirar um curso sem empregabilidade). Os custos de manter hospitais, centros de saúde e saneamento básico. E vejam se os impostos que esse casal paga por ano...cobrem a despesa.).

(preparem-se que isto agora vai dar uma volta...pode parecer louco à primeira lida...mas vão com calma..)

Segundo esta notícia (e outros comentários fatalistas) podemos pensar que quanto mais nascimentos mais crescimento económico e social...o que vai de encontro com a historia da revolução Romena...

Era uma vez um país do leste europeu chamado Roménia. Que tinha como lider o comunista Nicolae Ceaușescu. Até que em 1966, com as finanças a derrapar, Nicolae proibiu o aborto e métodos contraceptivos, criou impostos para quem não tivesse filhos e criou um generoso esquema de subsídios para quem os tivesse. Mães com cinco ou mais filho receberiam boas quantias do estado e mães com dez ou mais seriam consideradas "mães heroínas". O princípio era quantos mais putos mais operários no futuro! Kerching!
Estudos revelaram que as crianças "indesejadas" que nasceram nesse ano tinham mais probabilidade de ter fraca performance nos estudos e emprego. E, consecutivamente, render-se ao crime.
Em 1989 uma repressão assassina de um protesto em Timișoara resultou num revolução e destronou o regime de Nicolae...assassinou-o no dia de Natal. Curiosamente 23 anos depois da implementação do decreto 770. Justamente quando os filhos "indesejados" eram agora adultos com uma arma nas mãos. E o resto é história. Um país minado pela corrupção e crime. Onde crianças são usadas como activos no rentável mercado dos pedintes.
"Mas foi a miséria, repressão e falta de liberdade e prosperidade que causaram essa revolta!" Provavelmente. Mas será que foram essas as razões para o crescente de crimes e máfias que se seguiu?

Sempre que há um novo caso de um crime horrendo. Sempre que se fala de um psicopata. Há um padrão comum:A infância. Os primeiros 3 anos de vida são críticos para a formação de uma pessoa. A falta de atenção e carinho nesses primeiros 3 anos causam sequelas irreparáveis.


Dito isto: será que o aborto pode ser responsável pela quebra de crime violento no futuro?

Em 2001 dois economistas americanos fizeram essa pergunta num estudo. E afirmaram que "os dados" dizem que sim. Eles apresentaram o caso que referi acima para reforçar a ideia oposta.


É famosa a crescente de violência nos estados unidos durante as decadas de 70 e especialmente 80. Que era especialmente elevada em Nova Iorque. Isso foi retratado em inúmeras series e filmes como o Taxi Driver (para ser honesto, eu só tomei conta desta realidade pelas tartarugas ninja.).
(1980 Metro de NY - Polícia à paisana a "prender" assaltante...que estava a tentar assaltar o fotografo...que estava a servir de isco - Bruce Davidson - Magnum)

Mas depois no início dos anos 90 o crime violento começou a baixar drasticamente. Vários tentar arranjar uma desculpa...especialmente quem queria ganhar eleições (como o mayor Rudolph Giuliani). O estranho é que antes disso especialistas da polícia tinham dito que o crime ia piorar cada vez mais. Seria a pior década de sempre. Mas com o inicio da década de 90 e os assassínios a baixaram 55%...tornou-se difícil arranjar explicações. Vários estudiosos tentaram arranjar explicações (cada um a tentar puxar a brasa à sua sardinha) quer fosse nas novas estratégias de policiamento, penas de prisão mais pesadas, combate à droga, controlo de armas, mais agentes da polícia ou simplesmente crescimento económico.

E foi aqui que John J. Donohue da univ de Yale e Steven Levitt da univ de Chicago entraram. E começaram por atribuir valores a cada uma das possíveis explicações. E chegaram à conclusão que todas as explicações só explicavam metade dos resultados. Mas, então onde estão os outros 50%?

Em 1973 a decisão judicial Roe V. Wade abriu porta para a legalização do aborto em todos os estados (até então eram apenas 5). Precisamente o oposto do que aconteceu na Roménia em 66. Levitt defende que esta é a principal razão para o decréscimo de crime nos anos 90: Toda uma geração de filhos "indesejados" (potenciais criminosos)...nunca nasceu.

Pode parecer uma explicação simplista (especialmente com tantos factores diferentes como opressão, repressão ou crescimento económico) mas eu acredito que o estado social (principalmente o inglês) vive refém de "filhos indesejados". Vejo demasiados casos em que adolescentes ficam grávidas e optam por ter o filho porque isso é uma garantia de casa e rendimento mínimo (bem acima do que receberiam a trabalhar no cabeleireiro) por longos anos. Quanto mais filhos mais rendimento. Mas basta falharem os princípios básicos de carinho e educação nos primeiros anos e dentro de 20 anos teremos uma nova geração de pais adolescente e desempregados (curiosamente um caso que está a ser investigado agora, e que causou os motins de 2011, foi o de um "jovem" desempregado com 5 filhos procurado pela interpol). A um ritmo bastante acima daqueles casais que tentam planear e ter filhos cada vez mais tarde. Que significa que por cada filho num ambiente estável, teremos sempre várias crianças num ambiente desestruturado. E todos os subsídios e apoios, parece-me, são como apagar um fogo como gasolina.
Sei que é perigoso dar demasiado poder ao estado. Não digo que tenhamos de ser uma china e ter de impor taxas de natalidade a alguém. Mas é importante desincentivar filhos "indesejados".

Portugal está a passar um momento difícil. Com as finanças a derrapar mais ainda e com uma inflacção que estará ao virar da esquina é fácil ficar assustado com uma população envelhecida. Mas são exemplos como os da Roménia de 66/99 que me levam a crer que: Não precisamos de mais Portugueses. Precisamos de melhores.


PS- Estes casos são retirados do livro Freakonomics que só ouvi falar recentemente da boca de alguém que estava na mesa ao lado no café (sim...um tremendo acaso). Quando vi todo o alarido à volta do livro fiquei com vontade de o comprar...mas achei melhor ficar à espera do filme. Que curiosamente existe.
PS2-Concordando ou não...o que importa é pensar e discutir. Ficar parado a absorver as mesmas notícias todas as semanas não serve para nada.

5 comentários :

Eugénio disse...

Belo post Londoncalling, também o partilhei no meu facebook!

Também concordo que não é necessário gente a mais! Já escrevi no meu blog o quão insustentável é que sejamos mais de 7 biliões!

Além disso países que prosperam à custa de um grande número de cidadãos (ie China, India etc) fazem-no à custa de "escravatura" dos tempos modernos.

Filhos planeados e desejados que nasçam não por razões económicas (incentivos sociais) mas por um desejo dos pais em constituírem descendência e que estejam motivados em formarem um cidadão com princípios que se traduzam numa mais valia para a sociedade são realmente uma situação positiva. Mas igualmente filhos de famílias que não estão dispostas ou determinadas em investir na educação/formação dos mesmos, são um grande peso para as gerações/sociedades futuras. Por isso mais ou menos descendentes pode tanto ser bom como mau.

London Calling disse...

obrigado Eugénio.

quando vi a notícia do público a ser partilhada por muitos amigos e conhecidos que ainda estão em Portugal pensei em fazer este post.
E estou desiludido...porque esperava que contrariando a tendencia de que esta emigração é negativa e que menos nascimentos até pode ser uma boa notícia (e sobretudo tocar no assunto sensível do aborto), fossem mexer nas pessoas e receber aqui uns comentários azedos. Mas não! Que confirma que as pessoas não estão para se chatear. Para discutir. Ou sequer para pensar. Os problemas estão lá e "alguém" que os resolva que "isto não é a minha área".
...ou então tu és o único que lês o blog! :-)

Eugénio disse...

Infelizmente a blogosfera, um mundo muito mais interessante que o Facebook, raramente gera grande debate e interacção. Tenho pena que assim seja

Alexandre Rodrigues disse...

Excelente post, que não deixa de ser perturbador, especialmente para quem como eu é pró-vida sem ser defensor da proibição de abortar. Acredito que existirão (ou deveriam existir) outros meios para contornar o aborto, e este deverá ser sempre o último recurso, não a norma, mas isso é outra discussão. Há muito que defendo a ciência como resposta para muitas questões que nos rodeiam, mas tenho consciência e também defendo que a ciência será a responsável primeira pelo fim da civilização como a conhecemos. Tudo pelas melhores razões e intenções: o facto de vivermos mais tempo e com melhor qualidade de vida (artificialmente graças à ciência), passando ao lado da seleção natural, está e estará a por grande pressão no meio ambiente, na comida, nos recursos naturais e na demografia. As taxas de natalidade bem sucedidas e as mortes por velhice adiadas, mais os medicamentos e acessos a cuidados de saúde irão ser a nossa desgraça como civilização.

Bruno Mota disse...

Muito bom post, também partilhei nas redes sociais, conseguiste uma perspectiva distinta da habitual e com novos dados na mesa que acabam por ser decisivos na forma como o problema é abordado. Concordo plenamente com o que escreves, para quem vive ainda em Portugal há uma dupla tendência que teima em ficar: por um lado a auto-vitimização e por outro a culpabilização de terceiros, o que acontece ao nível dos governos mas também ao nível do cidadão comum. Vivemos com muitos limites mentais e auto-impostos.

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