Hoje acordei para mais uma avalanche de notícias sobre os novos motins um pouco por todos os bairros merdosos de Londres.
Em Clapham Junction, o mais próximo de mim, centenas de miúdos pilharam lojas de roupa e electrodomésticos até ao amanhecer. Uma loja de máscaras, que me salvou a vida quando procurava algo para uma festa temática, foi queimada. E com ela alguns apartamentos.
Tenho uma fonte que mora em Clapham Junction que viu toda a noite pilhagens de lojas feitas por miúdos. Raparigas que nem idade deviam de ter para conduzir paravam o carro que era recheado com artigos pilhados e partia. Para regressar de novo para novo carregamento. Miúdos que recebiam telefonemas da família, não para perguntar "o que raio estás a fazer a esta hora na rua?!?!", mas para dizer qual o modelo do LCD que querem lá em casa...
Uma senhora de meia idade passeava o seu cão imponente. E ao voltar trazia a trela numa mão e uma televisão na outra.
Não são vândalos de outras comunidades que fazem isto como os representantes das minorias querem fazer crer nos média. São os próprios vizinhos.
Aproveitem para ouvir este relato de este grupo de amigos que pilhava Londres pelas 9h30 da manhã.
De garrafa de rosé na mão a dizerem que a culpa disto é do governo (que não sabem ao certo qual é) e ao mesmo tempo dos "ricos". Que isto tudo tem um motivo, um objectivo:
"Showing the rich we do what we want".
Os "ricos" a que se referem são "the people that have businesses"...ou seja, todos aqueles que não vivem à custa do estado como esta gentinha.
E depois disto queria lembrar o que um Psicólogo convidado foi dizer na RTP (já agora à semelhança com uma socióloga residente em Londres também em directo no programa). Que o estado cortou os apoios aos youth centers. Que os Jovens estão frustrados e sem nada para fazer. Que todas as notícias da crise e do relacionamento com o grande capital e as agências de rating deixa a juventude revoltada. Agora oiçam a gravação acima novamente. Estes putos nem sequer sabem qual o governo que os governa! Quanto mais o que são agências de rating. Mas está tudo a dar-lhe no ácido?
Porque é que este mundo de académicos não se convence que somos todos diferente e que para isso precisamos de ter uns quantos que não querem MESMO fazer nenhum! Que se estão a cagar para tudo e todos na vida e que ninguém é mais culpado por isso do que eles! São precisos alguns assim para que o mundo gire!
Também várias vezes a jornalista disse que "Croydon é uma cidade pacata e calma". Gostava que da próxima vez que ela viesse a londres fosse apanhar um autocarro ou assim pela meia noite em Croydon. Isso ia ensinar-lhe a verificar melhor as suas fontas para a próxima vez. Se eu perguntar a algum residente da Cova da Moura se é um bairro pacato não espero uma resposta diferente. Não quer dizer que ele esteja a falar verdade. Todos nós temos a tendência de menosprezar o que acontece no nosso bairro quando alguém de fora nos pergunta (especialmente se já tiver má fama). A verdade está no coeficiente de esfaqueamentos/mês.
A partir da hora de almoço começaram todos no escritório num grande alvoroço. Porque ouviamos sirenes dos carros de polícia (também porque estamos perto de uma) e pela avalanche de twits que diziam que em soho já haviam motins. Que a estação de Holborn estava fechada de polícia de choque à porta. Fui espreitar a janela e vi o que me parecia ser Hackney ao longe:
Começo a receber mais emails dos recursos humanos da empresa a pedir para as pessoas que moram nos locais dos motins para regressarem mais cedo a casa e notificarem os seus managers. Para acima de tudo se manterem a salvo e longe dos conflitos.
Vou pesquisar o twitter para ver o que se passa em Tooting e encontro muitos twitts a informar que as ruas estão fechadas em Balham, Tooting Bec e Tooting Broadway. Que existem loja pilhadas em Tooting Broadway. E como eu vivo em Tooting Bec comecei a ficar muito preocupado. Até que começo a pesquisar por uns nomes de terras ao calhar e parecia que havia motins em todo o lado...mas nas notícias tudo calmo. Quando Cheguei a casa confirmei que era tudo tanga.
Até hoje não sentia perigo ou medo. Tinham algum espanto pelo que se estava a passar mas não tanto como seria se por exemplo fosse um motim em Lisboa. Mas depois de ouvir as historias de colegas que moram nos sítios afectados como Peckham e Croydon comecei mais a sentir a adrenalina de um acontecimente destes. Talvez não me tivesse batido antes por não ter visto pessoalmente os estragos.
E fiquei bastante afetado quando recebo emails como:
"Given what’s going on in and around London at the moment we are going to postpone our charity sports day.
A new date will be circulated shortly."
Ou um colega meu que cancelou a sua presença no jogo semanal de futebol porque vive em Ealing uma das zonas afetadas e queria chegar a casa antes de anoitecer.
Como é que um grupo de miúdos faz com que uma cidade mude a sua formar de estar do dia para a noite? Este sentimento de que um londrino não é livre de ir jogar à bola e voltar a casa assustou-me e revoltou-me.
Foi triste ver entre Holborn e Old Street praticamente todas as lojas encerradas às 5h da tarde. E em especial estes pubs e edificios em Old Street a serem fechados como se vivesse na Florida à espera do furação Katrina:
Em tooting e balham praticamente todas as lojas encerraram mais cedo por motivos de segurança.
"Panic on the streets of London
Panic on the streets of Birmingham
I wonder to myself
Could life ever be sane again ?"
Já os Ingleses the Smiths o diziam. Será que vamos recuperar a sanidade?
1 comentário :
Que vergonha, que vergonha e revolta... Dá uma enorme vontade de me juntar a grupos de pessoas de bem e patrulhar bairros. Não fazia mal nenhum se algum desses grupos fosse espancado por algum grupos de pessoas que defendem os seus bens mais preciosos... e que essa notícia de espalhasse.
Estou profundamente desiludido com este país, não pela escumalha que sempre soube existir, mas pelas autoridades que não defendem o que melhor têm na sua sociedade.
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